A Vingança do Mascant

 

A viagem da LONDON II é malfadada

 

 

CICLO MORDRED

9

A VINGANÇA DO MASCANT

 

POR

NILS HIRSELAND

 

IMAGEM DA CAPA

STEFAN LECHNER

 

 
 

Título Original:

Die Rache des Mascanten

 

Tradução:

José Antonio

 

Revisão:

Márcio Inácio Silva

Marcos Roberto

 

Formatação final para liberação no Projeto Traduções:

Márcio Inácio Silva

 

Capa em português

Manuel de Luques

 

Conversão para os formatos ePub, PDF e Mobi:

José Antonio

Publicação não comercial

 

O projeto Dorgon — ciclo Mordred — é uma publicação não comercial do PERRY RHODAN ONLINE CLUB e. V.

 

A tradução para o Português do Brasil é feita com autorização de Nils Hirseland.

 

Perry Rhodan® é uma marca registrada

Verlagsunion Erich Pabel – Arthur Moewig KG (VPM KG), Rastatt, Germany,

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www.projtrad.org/dorgon

dorgon@projtrad.org

  1. O que aconteceu até agora 

 

Escrevemos do ano 1290 NCG. Quatro anos e meio se passaram desde o naufrágio da espaçonave de luxo LONDON. Em uma época em que a Via Láctea era assolada por tolkandenses e dscherros e perigos iminentes ainda estavam por vir, a Corporação das Indústrias Shorne construiu uma segunda LONDON.

A nova e moderna nave espacial de luxo deve distrair os galácticos da catástrofe e explorar financeiramente o mito da LONDON destruída.

Mas, embora Michael Shorne consiga atrair sobreviventes da antiga catástrofe para o voo inaugural da LONDON, o projeto gerou inimigos. À frente de todos está o arcônida Prothon da Mindros. Essa é A VINGANÇA DO MASCANT...

 

Personagens principais deste episódio:

Atlan – O arcônida imortal tem que salvar a LONDON II de um congênere.

Rosan Orbanashol – A atraente arcônida está contra a vontade na LONDON II.

Wyll Nordment – O agente de Camelot recusa os imperativos do amor.

Mascant Prothon da Mindros – O almirante arcônida é guiado pelo ódio.

Michael Shorne – O bilionário reaviva o mito da LONDON.

Attakus Orbanashol, Karl-Adolf e Ottilie Braunhauer, Gol Shanning, Franc Kowsky, Traros Polat e Hajun Jenmuhs – Passageiros da LONDON II.

 

Prólogo

 

Em 10 de dezembro do ano 1285 NCG ocorreu uma das maiores catástrofes civis desde o início da LTL. A poderosa nave espacial hanseática LONDON foi sequestrada em seu voo inaugural por sectários fanáticos e assim começou uma longa odisseia que teve um terrível final em 10 de dezembro. Ela foi levada para a distante galáxia Saggittor, a 20 milhões de anos-luz. O próprio Perry Rhodan tinha estado incógnito na LONDON, a fim de conquistar um político importante para a Camelot. Ele chegou a um acordo com os saggittonenses, mas Rodrom, a encarnação de um ser misterioso chamado MODROR, começou uma perseguição implacável aos imortais. Rhodan conseguiu escapar de Rodrom e libertar com a ajuda do carismático saggittonense Aurec a galáxia das tropas sinistras de MODROR. Mas a encarnação não se rendeu a seu destino. Por um ato de vingança cruel de Rodrom, foi tirada a capacidade de manobra da LONDON, e ela caiu em um planeta aquático. A espaçonave afundou! A desventura tornou-se um desastre devido ao mal planejamento da Liga Hanseática Cósmica e o plano diabólico de Rodrom! Dos 16.022 seres vivos a bordo da LONDON sobreviveram apenas 5.999 almas. A espaçonave de 1,6 km de comprimento levou para a morte 10.023 homens, mulheres e crianças de todos os povos conhecidos do Grupo Local.

O naufrágio da LONDON também simbolizou para a Liga Hanseática Cósmica o declínio desta empresa tradicional. A LONDON era assegurada por uma empresa subsidiária da Liga Hanseática, mas esta se recusou a arcar com a perda, já que foi determinado Rodrom como o causador. Unicamente a Corporação das Industrias Shorne, com as especulações contra o sucesso do projeto LONDON e o seguro da perda de receitas, não teve prejuízo. O porta-voz da Liga Hanseática Arno Gaton estava acabado e enfrentava fortes críticas. Os mercados perderam a confiança na Liga Hanseática e pela queda nos lucros esperada e milhares de ações de indenização dos sobreviventes, a Liga Hanseática ficou paralisada. Por fim veio a Liga dos Terranos Livres como a maior proprietária, pelo menos para as vítimas, cujos acionistas venderam os papéis, que quase não possuíam valor. A Corporação das Industrias Shorne ganhou então os direitos de comercialização da LONDON. A tragédia tornou-se inesquecível. O sistema da desventura, que estava a quase três milhões de anos-luz da Via Láctea, foi batizado de London’s Grave e desde então ninguém mais voou para lá.

Mas o respeito pelos mortos deu lugar a ganância! No ano 1289 NCG, a desventura da LONDON virou o “Filme de Shorne”. O filme fez um enorme sucesso e foi agraciado com diversos prêmios. A história da nave hanseática e do amor entre o terrano Wyll Nordment e a meia arcônida Rosan Orbanashol deslumbrou bilhões de seres na Galáxia. Surgiram os primeiros rumores de uma possível recuperação da LONDON. Aí o multimilionário terrano Michael Shorne surpreendeu a Galáxia, quando anunciou que recriaria a LONDON e ofereceria uma viagem a London’s Grave. A nova LONDON devia percorrer os três milhões de anos-luz com cerca de 17.000 passageiros e 2.000 tripulantes, para proporcionar uma visita subaquática ao desastre.

Apesar do antagonismo feroz dos defensores dos direitos humanos e sobreviventes do desastre, Shorne concretizou seu objetivo e desencadeou uma campanha publicitária colocando a LONDON como um modismo, que distraiu a população da Via Láctea do conflito tolkandense, e especificamente os terranos da crise dos dscherros. Em 6 de junho do ano 1290 NCG, a LONDON II deve iniciar sua jornada.

A partir das Crônicas

Jaaron Jargon

Capítulo 1

Sonhos

 

Lentamente a popa da imensa nave espacial se ergueu. As pessoas a bordo da LONDON tentavam desesperadamente salvar suas vidas, mas nada mais poderia poupá-las da morte certa. A outrora orgulhosa espaçonave hanseática foi a pique com 10.023 seres. Houve apenas 5.999 sobreviventes. A LONDON foi para o fundo do mar, para uma profundidade de mais de doze quilômetros. Cerca de mil homens, mulheres e crianças nadaram por duas horas na água, gritando por socorro, mas somente duzentas foram salvas.

O horror nunca desapareceu das mentes dos sobreviventes.

Ele não estava presente na catástrofe, mas imaginava repetidamente o naufrágio. Via em sua mente os três gritando por socorro e tentando em vão escapar das águas. Todas as noites vivenciava o mesmo sonho. Todas as noites os via se afogando nas águas. Gritando por socorro, mas ninguém os ouvia.

Terza, sua esposa.

Carba, seu filho.

Esrana, sua filha.

Agora o túmulo deles seria profanado. Terranos inescrupulosos queriam fazer negócio da tragédia de cinco anos. Mas não tinham o direito de profanar o local de descanso de seus entes queridos. Isso era tão característico dos terranos. Nada lhes era sagrado. Eram na verdade apenas bárbaros que estavam muito abaixo de seu povo. Os subumanos, como ele muitas vezes os chamava, foram longe demais. Agora era hora de dar um exemplo. Eles tinham que ser punidos. Ele era, ao mesmo tempo, o promotor, o juiz e o carrasco, e sua sentença já estava definida: culpados!

 

Capítulo 2

O mascant

 

Ferryd Mir — Império de Cristal

30 de maio do ano 1290 NCG

A nave esférica cinza aproximou-se da órbita do planeta. O sistema Ferrydan estava na borda do aglomerado globular M-13 Tai Ark’Tussan1, o centro do poder do Império de Cristal. O sistema tinha uma extensão de 890 bilhões de quilômetros e apenas quatro planetas que orbitavam um sol azul. Ferryd Mir era o segundo e único mundo habitado. No entanto, ele era tudo menos hospitaleiro. Chovia constantemente no planeta pantanoso. A noite durava 22 horas, dois terços de um dia.

Ferryd Mir era uma base militar secreta do Império de Cristal arcônida. Como o sistema estava muito distante dos mundos arcônidas, o planeta era ideal para isso. Em Ferryd, haviam estacionados 200 soldados, que só serviam para proteger a estação. A base possuía um laboratório secreto, onde eram produzidas armas químicas e biológicas. Estes projetos tinham de ser mantidos em segredo com grandes encargos, porque a operação de armas químicas e biológicas era proibida em um possível caso de guerra  no Galacticum. Todos os grandes povos da Via Láctea, incluindo os arcônidas, haviam assinado um tratado. Mas o imperador Gaumarol da Bostich I não se sentia vinculado a este acordo — pelo menos não oficialmente. Para ele, tratados visavam apenas tranquilizar os inimigos. Algumas armas bestiais eram desenvolvidas nos laboratórios.

Kelon Protzek era o chefe científico da estação. O ara literalmente se levantava para seu trabalho. Ele vivia sozinho desde que sua esposa o deixara por não poder suportar o trabalho do marido. Pois as pesquisas eram para ele a coisa mais importante em sua vida. Hoje era um dia muito importante para o ara, já que um alto mascant arcônida vinha em visita. A visita do almirante fora anunciada ontem, então não havia grande agitação na estação científica.

O mascant, no entanto, insistiu que nenhuma parada em sua homenagem fosse realizada. Ele queria inspecionar a estação no estado normal.

Qualquer visita estava sujeita ao mais estrito sigilo. Apenas cerca de trinta pessoas sabiam. Estas pertenciam ao pessoal científico do ara ou do comando de escolta.

Vinte soldados escoltavam no tempo chuvoso habitual o cientista na pista. Pelas nuvens penetrava uma luminosidade clara, que se tornava mais intensa a cada segundo. Então, Prozek avistou o couraçado da classe COBAN do mascant Prothon da Mindros. A HOZARIUS XIV começou lentamente a aproximação de pouso. Com sons estrondosos, ela desceu lentamente para o campo de pouso até tocar o solo. Os projetores antigravitacionais foram desativados. A chuva crepitava no casco externo da nave. O ara sentiu um calafrio percorrer a espinha. Ele não sabia exatamente por quê, mas tinha que ser por causa do tempo. Uma escotilha abriu lateralmente e um tubo cilíndrico deslizou para fora da nave esférica até o solo. Uma escotilha se abriu e uma plataforma foi baixada. Dez soldados arcônidas saíram do tubo cilíndrico, e se alinharam em saudação. O próximo homem que caminhou lentamente pela plataforma era o mascant em pessoa. Ele não usava sobre o uniforme altamente condecorado nenhum traje espacial, apenas uma capa de chuva cinza. Suas botas até o joelho brilhavam em um preto profundo. O rosto do almirante era inexpressivo. Era angular, austero e marcante, seus olhos vermelhos escuros mostravam pouca emoção, mas algo estranho brilhava neles. O cabelo era relativamente curto, mal chegando aos ombros. Em sua cabeça o arcônida usava um quepe de oficial cinza-escuro, em que eram vistos a insígnia de almirante.

O cientista Kelon Prozek sabia exatamente com quem se defrontava. O mascant Prothon da Mindros era um dos oficiais mais condecorados do Império de Cristal.

Os soldados da estação de Ferryd Mir saudaram o almirante com honras militares. O vento e a chuva pareciam pouco incomodar Mindros. Pelo contrário, ele olhou para o céu e deixou que as gotas caíssem em seu rosto. Então, desceu da plataforma e atravessou o campo até ficar perante o ara.

— Que honra, mascant, que honra! — este proferiu subserviente.

— Poupe suas frases para você. Elas são inúteis. Estou aqui para ter uma ideia da sua nova “arma milagrosa” — reprochou o almirante rispidamente.

O ara estremeceu interiormente um pouco, mas não deixou transparecer nenhum sinal. Ele começou a sorrir novamente.

— Claro, mascant. Permita-me falar sobre a minha mais recente conquista durante a refeição — ele recomeçou amigavelmente.

— Agora não tenho tempo para uma refeição. Quero ser informado imediatamente sobre a arma e exijo uma demonstração convincente das suas capacidades! — replicou Mindros, em seu tom de comando militarista.

Mais uma vez o semblante de Prozek endureceu. Todas as tentativas de ser amigável ricocheteavam no almirante. Ele arquivou a tentativa de tirar vantagens de Mindros, e o levou para o laboratório. Soldados de Mindros seguiam cada passo do comandante. Poucos minutos depois chegaram a um edifício em forma de funil e entraram em um dispositivo antigravitacional. — Seco finalmente. Um tempo terrível, não é? — tentou o ara mais uma vez uma conversa, mas Mindros fez apenas um som afirmativo. Os trinta homens chegaram à instalação do laboratório. Ela consistia de uma ramificação complexa de laboratórios e salas de armazenamento e de ensaios. Alguns químicos trabalhavam em vários experimentos, a maioria, no entanto, estava dormindo, porque já era tarde da noite deste lado de Ferryd Mir. Prozek pensou sobre por que Mindros tinha tanta pressa. Ele renunciou a uma refeição, a uma parada e até mesmo chegara em uma hora incomum. O ara achava Mindros um tipo idiossincrático.

O almirante era tão famoso quanto notório. As mais altas condecorações ornavam o peito do mascant. Mindros era conhecido por ter derrubado toda a resistência de colonos rebeldes intransigentes. Ele era altamente considerado, tanto na Frota de Cristal, quanto pelo Imperador e o povo. A carreira ativa de Mindros terminara abruptamente, no entanto, há cinco anos. Ocasião da morte de sua família. Desde então, o militar, já frio, ficara mais parecido com um robô do que com um arcônida. Mindros mostrava pouca emoção. Ele fora promovido a almirante de estado-maior e nomeado chefe da Academia da Frota de Cristal.

— Aqui estamos — disse Prozek ao chegarem a uma sala com muitos aparelhos técnicos e científicos.

O mascant Mindros parou e cruzou os braços atrás das costas. Ele deixou seu olhar vagar pela sala, e estudou os assistentes de Prozek.

— Estou esperando — disse ele exigente e viu o ara abaixar os olhos. Prozek reagiu imediatamente. Ele fez um gesto a um de seus assistentes, que pressionou um controle e uma escotilha abriu subindo. Atrás dela se escondia uma pequena plataforma de lançamento. Uma espaçonave não muito grande estava pronta para decolar da base. Dois arcônidas foram levados para a espaçonave, logo após foi trancada.

— Dois criminosos. Provavelmente são seguidores da IPRASA2. O Serviço de Segurança me forneceu eles para fins experimentais — esclareceu Prozek casualmente como se fossem objetos de teste sem valor. Ele pressionou alguns controles sobre o aparelho. Um robô se dirigiu para a espaçonave com os dois arcônidas. Ele empurrava uma mesa antigravitacional com uma rocha.

— Pedras completamente inofensivas que podem ser usadas como cinzeiro, obras de arte ou artefatos — explicou o cientista. Em seguida, a espaçonave decolou. O robô permaneceu na nave. Uma câmera estava ligada a ele, de modo que Mindros poderia seguir tudo. — A espaçonave tem um propulsor metagrav. Ela agora mergulhará no hiperespaço e executará uma circum-navegação no sistema.

A espaçonave desapareceu visualmente, mas a transmissão permaneceu, embora ligeiramente distorcida.

A rocha começou a fumegar e soltar gás.

Os dois arcônidas gritaram e tentaram desesperadamente sair da sala, mas o gás os alcançou. Ambos começaram a sangrar pelo nariz e pela boca e incharam até que a pele se romper. O robô também começou a fumegar e implodiu. Ambos os homens morreram miseravelmente. A espaçonave foi destruída por ignição remota.

Mindros assistiu em silêncio ao espetáculo. Ele assentiu imperceptivelmente. Prozek interpretou isso como um sinal de satisfação.

— Parece ser muito eficaz! — disse o mascant agora.

— Claro que é. Ela mata tudo e todos. Como uma rocha normal, é completamente inofensiva. No entanto, o propulsor metagrav exerce um efeito hiperdimensional ainda não conhecido sobre a rocha e ela se oxida em um gás, o que é absolutamente fatal. Ela destrói a matéria orgânica e também pode decompor metal. Somente campos defensivos poderiam deter o gás. No entanto, dissolve-se após cerca de 15 minutos por si só.

— Impressionante — observou Mindros. Ele fez a um de seus homens um sinal. O arcônida, em seguida, saiu da sala.

— Quanto material você tem na estação? — perguntou Prothon da Mindros. Prozek fez uma expressão pensativa. — Seria suficiente para uma multidão de cerca de 19.000 seres em um espaço de 1.600 metros de comprimento, 554 metros de largura e 787 metros de altura? — perguntou Mindros após perceber que Prozek responderia a resposta anterior de maneira insatisfatória.

— Naturalmente. Temos abundância de amostras de rocha aqui — disse o ara eufórico, sem saber que ele tinha assinado sua sentença de morte.

— Muito bom!

Prozek ouviu alguns disparos ao fundo e os gritos dos soldados.

— Estamos sob ataque! — gritou o cientista em pânico. — Mascant, temos de estar em segurança!

— Não é necessário — objetou ele. — Nós não seremos atacados. Você será atacado.

Prozek ficou visivelmente confuso. — Onde está a diferença? — ele quis saber. Mindros puxou um radiador e disparou contra o ara que gritou apavorado. O raio matou o pesquisador instantaneamente.

— Esta é a diferença.

Da HOZARIUS XIV se precipitou mais de 100 soldados de uma unidade de elite, que Mindros comandou pessoalmente. Eles se deslocaram profissionalmente e ocuparam rapidamente todos os pontos importantes do espaçoporto e todo o complexo laboratorial. Mindros mandou que carregassem as rochas imediatamente para a HOZARIUS XIV. O carregamento levou dez minutos. A maioria dos soldados estacionados em Ferryd Mir nada testemunhou do assalto. Os demais foram abatidos.

Prothon da Mindros lamentou pelos soldados caídos, mas ele não tinha outra opção. O mascant se logou no terminal, acessou e deletou passagens inteiras das notas privadas do ara em que havia alguma menção de sua visita secreta, então ele saiu de cena, deixando para trás cerca de trinta mortos.

— Vocês morreram pelo poder e glória de Árcon, camaradas! — se despediu Mindros. Vinte minutos depois, a espaçonave levantou e desapareceu na imensidão do espaço sideral.

 

Capítulo 3

O grande evento

Terrânia, Terra

02 de junho do ano 1290 NCG

 

Toda a alta sociedade da Liga dos Terranos Livres estava presente nesta noite na monumental mansão de Michael Shorne. Políticos, atores, pessoas “It”3, ricos industriais e empresários participavam da grande festa do multibilionário. Michael Shorne, proprietário da Corporação das Industrias Shorne, denominada abreviadamente CIS, era o dono da LONDON II. Tinha sido sua a ideia de recriar a fatídica nave hanseática e oferecer uma viagem até os destroços da primeira LONDON. Shorne esperava conseguir com isso um negócio bilionário. Aparentemente para também aumentar suas faturas. Junto com o volume de negócios que ele obtinha com os passageiros, Shorne também tinha conseguido os direitos exclusivos com as redes de televisão, que queriam ser as primeiras a transmitir as imagens do naufrágio.

A LONDON caía de novo no interesse público, depois de ter sido apresentado no ano 1289 NCG uma adaptação cinematográfica de sua empresa de produções sobre o destino da nave hanseática nos programas de trivídeos das grandes redes galácticas e palácios de trivídeos locais. A história teve muitas peculiaridades que nenhuma outra produção teve. Assim tinha sido o primeiro trabalho de baixa qualidade que desde um longo tempo Perry Rhodan aparecia. Isso tinha sido forçosamente necessário já que o portador de ativador celular tinha de fato estado cinco anos atrás a bordo do voo inaugural da LONDON, para conquistar o somerense Sruel Allok Mok para a Camelot. Por outro lado, fascinaram os espectadores a história de amor entre Rosan Orbanashol, a desafortunada meia terrana oprimida pela família arcônida dos Orbanashol, e Wyll Nordment, o ex-primeiro oficial da LONDON, que fez de tudo pelo amor de Rosan. No entanto, isto eram apenas bons ingredientes aos olhos de Michael Shorne. O acontecimento principal era o naufrágio da LONDON. Sem esta catástrofe, na qual 10.023 seres tinham morrido, o filme não teria sido um sucesso tão grande. Shorne agora explorava o sucesso do filme e a publicidade em torno da LONDON, para dar às pessoas o que elas mais queriam: estarem a bordo da LONDON. Havia bastante publicidade. Como por exemplo, Attakus Orbanashol havia processado a empresa de cinema por difamação. O incidente mais famoso ocorrera logo após a estreia do filme. Arno Gaton, o então primeiro porta-voz da Liga Hanseática e proprietário da LONDON, que fora sem dúvida o responsável pelo fiasco, cometera suicídio. Ninguém lamentara pelo velho malandro. Shorne nunca tinha suportado Gaton. A Liga Hanseática Cósmica entrara em declínio desde o desastre da LONDON. A Crise Dscherro fizera o resto. Aos olhos de Shorne, faltava apenas o desmonte da Liga Hanseática com um estrondo fulminante.

Esses fatos foram altamente gratificantes para Michael Shorne, pois fizeram propaganda para seu projeto. Embora o momento fosse muito adverso devido as disputas políticas, a LONDON ficou sendo um dos temas centrais na Galáxia.

Michael Shorne tinha apenas 35 anos e já era um dos empresários mais bem-sucedidos e influentes de toda a LTL.

Shorne tinha sido sempre considerado um empreendedor nato. Ele próprio sentia que ele surfava uma onda hiperespacial de sucesso. Dava-lhe no mesmo se tinha concluído um negócio lucrativo com Guardiões Galácticos ou com o coronel Kerkum de Mashratan. Unicamente o que contava era o lucro.

Ele assumiu inteiramente a CIS após a morte de seu pai Willem. Ele tinha perdido estupidamente algum dinheiro após a LTL ter se distanciado oficialmente de Mashratan.

Mas Shorne, na época, tinha conseguido tirar o próprio pescoço do laço. Já que tinha sido preferido a cabeça do coronel Kerkum a dele. No entanto, talvez as relações comerciais se normalizariam novamente algum dia, quando a grama tivesse crescido sobre o atentado do ano 1282 NCG. Havia também considerações pela SLT de iniciar um golpe secreto. Shorne ponderou se ele deveria atuar como financiador. Naturalmente só se ele pudesse garantir os direitos comerciais exclusivos com Mashratan.

Shorne se expandiu para todos os setores possíveis da economia e, assim, tornou-se um dos empresários mais influentes da Galáxia. Shorne possuía de tudo, de cadeias de abastecimento alimentar a fábricas de planadores e instituições de pesquisas bioquímicas até agências de viagens. Os negócios corriam muito bem. Onde havia problemas, Shorne atuava com seu poder. Ele se servia de qualquer meio para vencer. Nunca se conseguia provar algo contra ele. Contudo, seu casamento não tinha corrido tão bem. Anne tinha se divorciado dele e se mudado com seu filho Danny para Olimpo.

Mas isso pouco incomodava Michael Shorne. O relacionamento com Anne tinha sido um erro. Ele tinha apenas 20 anos de idade e Anne tinha tolamente dado um passo em falso ao esperar um filho dele. E o pai de Shorne tinha querido evitar um escândalo. Agora, seu pai estava morto e o casamento acabado. E Shorne poderia viver bem.

Ele preferira se concentrar em seus negócios, e as posses cresceram cada vez mais. Hoje era um dia especial para ele, porque era a inauguração da LONDON II. A nave de 1.600 metros de comprimento foi concluída neste dia e classificada pelos examinadores como capaz de voar. Por este motivo, os ricos terranos davam uma festa.

Shorne estava em meio à multidão e conversava com os convidados. Ele usava um terno vermelho escuro confeccionado dos melhores tecidos. Seu cabelo estava penteado para trás e com gel. Ele gostava de ser o centro. Michael tinha conseguido se tornar a personalidade mais conhecida da Galáxia. Seu nome era um sinônimo de projeto ousado em quase tudo.

A atenção de Shorne se voltou para Cistolo Khan, que entrou no salão da festa acompanhado de uma atraente morena. Shorne pediu desculpas a seus convidados e saudou Khan.

— Fico contente em ver que até mesmo o governo mostra interesse em meu projeto — começou Shorne, exultante e arrogante. Em quase todas as frases, ele tentava se colocar no primeiro plano. — No entanto, estou um pouco decepcionado, por não poder cumprimentar pessoalmente Paola Daschmagan — acrescentou ele, em tom de censura.

Khan pigarreou. Um garçom lhe trouxe uma taça de champanhe. O comissário da LTL agradeceu o serviçal e tomou um gole.

— Bem, a Primeira Terrana está agora muitíssima envolvida na campanha eleitoral. Assim sendo, ela infelizmente teve de atender outros compromissos. Ela mandou lhe transmitir seu grande pesar e também deseja muita sorte para a iminente viagem.

— Você vai precisar — acrescentou Khan sarcasticamente. Michael Shorne começou a rir alto. Ele deu tapinhas nas costas do comissário da LTL. — Vejo que você ainda possui humor, Cistolo. Eu gosto disso. Especialmente numa crise como a de agora. Quero dizer, depois de sua falha gritante com os dscherros e a derrota eleitoral iminente, é incrível você ainda ter senso de humor.

Khan sentiu o escárnio nas palavras de Shorne, mas decidiu não responder. — Afinal, não queremos que você acabe como o pobre Arno Gaton — replicou o comissário da LTL após uma breve pausa.

Shorne sorriu, novamente desdenhoso. — Não se preocupe. Isso não vai acontecer comigo. Desculpe-me, eu tenho que cuidar dos outros convidados.

E se virou para a acompanhante.

— Ulalá, quem temos aqui?

A morena fria, com grandes olhos de esmeralda e corpo atlético, apertou as mãos de Shorne. — Sanna Breen — disse ela.

— A srta. Breen é a minha assistente — disse Khan.

Shorne sorriu.

— Eu posso imaginar — disse Shorne.

— Nem todo mundo tem fantasias tão sujas como você, Michael Shorne — retorquiu Sanna Breen, altiva.

Por um momento Shorne ficou com raiva, então ele tomou isso como um desafio esportivo. Um dia ele iria ter a morena na cama. Se ela tornasse difícil para ele, ela ficaria apenas mais atraente.

— Talvez possamos, em um jantar, compartilhar nossas fantasias?

— Eu preferiria jantar com um dscherro.

Shorne riu.

— Eu posso arrumar isso, pequena dama. Bem, eu desejo que se divirtam bastante na minha festa.

 

***

 

Michael Shorne voltou-se novamente para os outros, enquanto Cistolo Khan e Sanna Breen se serviam do bufê frio.

— Um tipo nojento — comentou Sanna, ao se servir de uma salada.

— Assim são as pessoas de sucesso às vezes. Shorne é muito importante para a economia terrana — disse Khan.

Breen mudou para um tema sério.

— Devíamos finalmente realizar uma extensa investigação dos OVNIs no sistema Mashritun. Acho os inspetores da Mashratan pouco competentes.

Cistolo Khan deu a entender que não enquanto enchia seu prato.

— Kerkum vai contornar o embargo de qualquer maneira. Sabemos disso. Concedemos isso a ele para que ele nos deixasse em paz. O público acha que faz um bom trabalho. Muito pior seria um conflito, esforço de guerra, ou ataques terroristas.

Sanna Breen ficou calada. Cistolo Khan fitou sua bela assistente e sorriu.

— Você é tão idealista. Mas a política de verdade tem pouco a ver com o idealismo. Não devíamos despertar nenhum tigre adormecido.

Breen provou de sua salada, que acabou não gostando muito. — E se o tigre nunca dormiu? Não deveríamos passar nossas informações aos camelotianos sobre o misterioso Cavaleiro Prateado Cauthon Despair?

Khan suspirou.

— O que já sabemos? Temos apenas informações vagas sobre um movimento separatista chamado Mordred, que esteve supostamente envolvido no sequestro da LONDON. Nossos homens-V4 informaram sobre um homem chamado Cauthon Despair, que aparece com um traje espacial prateado em nome dos separatistas, que, obviamente, tem alguma coisa contra Camelot...

— Despair já foi um camelotiano. Talvez vai acontecer algo. Afinal Landry tinha reportado na época que a Mordred comandou uma batalha espacial.

Só após Khan ter provado bem de seu bufê, ele respondeu: — Por quase cinco anos, nada aconteceu. Além disso, talvez possamos monitorar Despair. Se ele conhece as coordenadas de Camelot, talvez nos leve diretamente para o mundo dos rhodanianos. Se as coisas continuarem assim com a LTL, temo uma volta de uma ascensão ao poder de Rhodan. A localização de Camelot não pode nos prejudicar.

— Eu não considero os camelotianos nossos inimigos — objetou Breen.

Khan deu a entender que não.

— Questão de opinião. Bom, junte mais informações sobre a Mordred, especialmente sobre este Despair. Mas nem uma palavra a alguém de confiança de Camelot. E agora chega desse assunto. Bom apetite!

Breen respirou fundo e assentiu. Aparentemente ela não queria irritar seu chefe e comeu bem-comportada sua salada.

 

***

 

Um dos convidados especiais de Shorne era Gol Shanning. Shanning era editor-chefe de um jornal terrano respeitável. Ele e Shorne tinham sido amigos e sócios, que também tiveram nas mãos muitas atividades ilegais. No entanto, o jornal de Shanning não andava mais como desejado. Os leitores duvidavam da seriedade. Isso não era nada surpreendente, uma vez que Shanning era considerado amigo de Daschmagan, e fazia com que as reportagens fossem igualmente positivas e sempre coincidissem com os pontos de vista dela. Os jornalistas e colunistas eram acusados de um jornalismo partidário. Aparentemente os cidadãos da Terra tinham se cansado de serem ludibriados. Shorne não tinha absolutamente nada contra a imprensa manipuladora e propagandística. No entanto, nunca esquecera Gol, cujo tabloide há oito anos havia noticiado depreciativamente os negócios entre as indústrias Shorne e Mashratan. Agora, a triagem decrescia de forma constante. Shanning teve que contrair muitos empréstimos e extorquir algumas pessoas para aliviar a sua situação. Shorne não dava a mínima para Shanning. Fazia anos que ambos não se viam. Havia apenas um fato que tornava o dono do Sol-News muito atrativo: seu relacionamento com Rosan Orbanashol-Nordment.

 

***

 

— Gol, estou surpreso em vê-lo aqui — fingiu Shorne. Na realidade, ele sabia exatamente por que Shanning tinha aceitado o seu convite. Gol Shanning era um terrano imponente com quase 1,90 metro de altura e uma figura relativamente desportiva. Seu cabelo já estava ligeiramente grisalho e seu rosto marcado por algumas rugas, porém se podia ter dele a impressão de um cavalheiro.

— Bem, você deixou bem claro em seu convite que seria desastroso se eu não aparecesse. Então, aqui estou — disse o terrano. Shorne riu de novo. Mas seu riso foi pouco amigável, e muito irônico. Ele pediu a Shanning para conversarem em uma sala separada. Shorne chamava esta sala de o “retiro japonês”. Ele havia a mobiliado segundo a tradição antiga japonesa. Claro que tudo de alto custo. — Sente-se — ofereceu o bilionário, enquanto brincava com uma bola de plasticina em sua mão direita.

— Obrigado, prefiro que isso seja breve. Cada minuto em sua mansão é repugnante para mim!

— Então, não há tempo para cortesias. Bem, eu acho que você vai mudar de ideia rapidamente. Ah sim, como vai Rosan?

— Sua resposta permanece não, Michael! Ela não vai participar da viagem — respondeu rispidamente Shanning à pergunta.

— Eu penso que, se você a persuadir do jeito certo, ela vai rapidamente mudar de opinião, velho amigo — disse Shorne. Shanning sorriu. — Eu sou a última pessoa que a convenceria a fazer esta viagem — disse ele ironicamente. Shorne amassou vigorosamente o brinquedo elástico em sua mão, depois foi a um monitor e mostrou a Shanning alguns balanços. A expressão do editor de jornal escureceu ainda mais quando percebeu do que se tratavam as estatísticas. Elas mostraram os balanços de um banco privado terrano, com o qual Shanning tinha contraído bilhões em crédito. Ele também conseguiu reconhecer os dados sobre seu empréstimo.

— O que vem a ser isso? — perguntou ele, furioso.

— Desde ontem, sou o dono deste banco e, portanto, seu credor.

O antigo sócio de negócios de Shorne ficou em silêncio.

— Vamos abreviar: se você e Rosan não participarem da viagem, pode esquecer do seu tabloide porque vou rescindir o empréstimo. Você pode me processar, mas tenho algumas histórias antigas que certamente interessariam muito ao tribunal.

— Seu cão miserável! — gritou Shanning e quis pegar Shorne pela gola, mas, então, adiantou-se um guarda-costas do empresário e agarrou Gol Shanning rudemente. O epsalense segurou a raivoso terrano enquanto Shorne voltava a ajeitar seu terno. — Não adianta xingar. Só depende de você, Gol.

Shorne fez um sinal ao guarda-costas que o soltou imediatamente. Shanning respirou fundo e olhou ferozmente para Michael Shorne. — Mesmo se eu quisesse, não sei se eu consigo contar uma história plausível a Rosan que ela aceite e também lhe dê um motivo para participar da viagem — tentou ele uma desculpa.

Novamente seu interlocutor riu alto.

— Como seria com a verdade?

— Por que isso é tão importante para você? — respondeu Shanning com outra pergunta.

— Muito simples! O de 10 dezembro do ano 1285 NCG foi o meu dia de sorte. O desastre foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido, após as perdas pelo caso Mashratan. Eu vou fazer um negócio de bilhões com isso. As pessoas são fascinadas pela LONDON e querem compartilhar de seu destino. Vou lhes oferecer isso. Nada e ninguém vai ficar no meu caminho. Você também não, Gol!

 

***

 

A noite estava estrelada. A jovem estava sentada em uma cadeira no terraço, envolta em um cobertor, e observava o céu sobre São Francisco. Os escaleres e planadores enchiam de vida o horizonte. Seu gato se adiantou e miou. Ele demonstrava que estava esperando mais afeição de sua dona.

Rosan Orbanashol-Nordment atendeu com prazer ao pedido do belo animal e massageou com a mão o pescoço do gato.

— Melhorou, Loo? — ela sussurrou baixinho.

Ela recebeu uma resposta sob a forma de um ronronar alto. Os olhos cor de rubi de Rosan brilharam quando sorriu para o ser brincalhão.

Ao lado dela, o trivídeo passava uma reportagem sobre a nova LONDON. A expressão de alegria em seus olhos se extinguiu de imediato. Ela os fechou por um tempo e se lembrou da época. O voo com a LONDON havia mudado sua vida radicalmente. Quando ela fora para bordo, ela era a enteada marginalizada da família arcônida dos Orbanashol. Ela tinha que viver segundo a etiqueta e se sentia presa. Então ela conhecera Wyll Nordment e se apaixonara por ele. Um amor que não gostaram, porque ela tinha sido prometida a seu primo Attakus Orbanashol.

Mas ela havia contrariado sua família, ficando com Wyll. Juntos, eles haviam sobrevivido à perigosa aventura na galáxia Saggittor, em um universo paralelo e a queda horrível da nave hanseática, o que também ela creditava a Wyll. Sua mãe biológica e o padrasto haviam morrido no desastre. Attakus havia sobrevivido, mas ela nunca voltara a vê-lo.

No entanto, ela nunca poderia esquecer as cinco terríveis horas do naufrágio da LONDON. Eram 23h20min quando a LONDON fora atacada pela WORDON. Às 04h28min a popa da LONDON finalmente desaparecera nas profundezas do oceano.

A maneira pela qual a espaçonave fora destruída tinha sido única e estranha. Rodrom, o emissário da criatura misteriosa e sinistra chamada MODROR, tinha atacado a LONDON na órbita de um planeta aquático — na verdade disparado.

A LONDON tivera que pousar na água e afundara. Devido a sabotagem de Rodrom e a irresponsabilidade tinha havido muitas poucas cápsulas de salvamento a bordo. Eram suficientes apenas para cerca de 6.000 seres. Naquela noite morreram mais de 10.000. Por muito pouco Rosan também morrera. Ela atribuía a sua sobrevivência a Wyll Nordment, que a salvara como só uma donzela poderia ser salva. Após a catástrofe, ambos foram enviados, mediante um acordo com Perry Rhodan, para Camelot. Ali se casaram pouco tempo depois. Wyll se tornara comandante de uma espaçonave da organização dos imortais. Mas Rosan tinha ficado em casa e sentia-se subutilizada. Além disso, ela tinha um grande anseio pela Terra, onde ela sempre quis viver.

Seu pai era terrano, mas fora assassinado por sua mãe e seu padrasto, o que, naturalmente, foi encobertado como um acidente. Ela era meia terrana, o que se podia ver nela. Embora Rosan tivesse os típicos olhos vermelhos arcônidas, o cabelo era castanho-vermelho e encaracolado. Anatomicamente, ela era uma raridade, porque seu peito era formado por uma mistura de costelas e a típica placa óssea arcônida.

Com a permissão de Rhodan, e a eliminação de sua memória das coordenadas e da verdadeira identidade de Camelot, ela havia deixado Camelot e se mudado para a Terra, onde conhecera Gol Shanning.

Naturalmente, ela ainda era muito apegada a Wyll, mas os dois tinham discutido violentamente e mandaram cancelar o contrato de casamento. Por mais de um ano ela não tinha ouvido falar dele, ainda que pensasse nele muitas vezes. Naturalmente Rosan não contou nada disso a Shanning. A ex-Orbanashol tinha medo de que ele compreendesse mal isso.

De certa forma, ela sempre amou Wyll, mas não queria ser novamente dependente de um homem, ela queria construir algo próprio. Gol Shanning havia prometido ajudar nisso. Ele sempre tinha sido muito amável e galante com ela. Ela finalmente se apaixonara por ele. No entanto, não sentia por ele o mesmo que por Wyll. De alguma forma, algo que ligava ambos duraria para sempre, mas agora Gol era seu parceiro e ela tinha a intenção de permanecer fiel a ele. Ela gostava dele com sinceridade e, a seus olhos, ele merecia uma chance.

Rosan ouviu atrás de si a porta da frente abrir. O gato miou e pulou do colo da Orbanashol.

Um homem se aproximou dela. Era Shanning. Rosan percebeu que ele tinha uma expressão deprimida. Ela descartou seus pensamentos para Wyll Nordment e perguntou o que estava acontecendo. Gol foi para o bar e se serviu de um copo de Vurguzz. Depois se sentou em uma poltrona. Rosan se levantou e caminhou até a sala. Ela sentou-se no colo de Gol e o abraçou. Ele olhou com tristeza para ela.

— Querida, eu tenho que confessar uma coisa para você.

 

***

 

— Você não pode estar falando sério! — gritou Rosan para ele, irada. Ela se levantou e atravessou a sala, irritada. Shanning partiu agora para a pena. — Eu sinto muito. Eu gostaria de ter reparado o erro. Por Deus, eu realmente gostaria. Mas não está em meu poder — disse ele numa melancolia simulada.

Rosan não reagiu às suas palavras. Ele continuou: — Eu disse a Shorne que você não irá sob quaisquer circunstâncias para a LONDON II. Assim, vou arcar com as consequências e vender o jornal. É melhor você voltar para Camelot. Eu falhei e vou aguardar meu destino.

Rosan balançou a cabeça. — Isso não é justo — disse ela amargamente. Gol olhou para ela com tristeza. Algumas lágrimas escorriam de seus olhos.

— Você sabe que ainda hoje tenho pesadelos do afundamento. Você sabe que é um fardo para mim retornar à LONDON, mesmo ela não sendo a mesma espaçonave?

E, ainda irritada, ela completou: — Shorne quer ir até a London’s Grave. Vou junto como uma jogada publicitária, e tudo passa de novo pela minha frente. Eu não sei se eu posso fazer isso.

Gol Shanning se levantou e esfregou os olhos. Ele sabia que Rosan não o deixaria cair se ele fosse hábil. Ele não podia e não perderia o seu jornal, especialmente não para alguém como Michael Shorne.

— Ninguém está pedindo isso de você — ele mentiu habilmente.

Rosan balançou a cabeça novamente.

— Mas eu também não posso deixá-lo cair, Gol. Eu não quero que você perca tudo. Por isso... — ela hesitou brevemente. — Por isso eu vou participar da viagem.

Gol Shanning voltou a sorrir. Ele agradeceu a Rosan e a beijou na testa. — Nós dois vamos nos divertir na viagem e mostrar para aquele Shorne quem tem a palavra final!

Ele a abraçou brevemente e se despediu novamente de sua amada, uma vez que ele ainda tinha que ir a seu escritório. Esta era a razão oficial. Na realidade, ele tinha que comunicar a Michael Shorne que seu plano fora bem-sucedido.

Rosan voltou a ficar sozinha com o gato. Ela não tinha imaginado sua vida desse jeito. Ganhava traços que a lembravam de sua existência em Árcon.

 

Capítulo 4

Atlan

Camelot, antigo mundo comercial Fênix

03 de junho do ano 1290 NCG

 

A GILGAMESH estava em órbita de Camelot e era cuidada pelos técnicos mais qualificados. Atlan tomou a pausa para voltar ao planeta. A RICO, um dos módulos da GILGAMESH, já há um bom tempo estava sendo seu lar. Apesar de sua cabine ser extremamente confortável, ele ficou satisfeito em estar novamente em seu bangalô, no ar fresco, em seu jardim e tudo o mais.

O arcônida foi o mais rápido possível com um planador para o apartamento dele e tentava desfrutar de algum tempo quieto. Desde o início do ataque dos tolkandenses, o imortal nunca conseguiu descansar adequadamente. O perigo representado pela Goedda5 tinha persistido por muito tempo. Depois disso, a catástrofe dscherro6 tinha demandado completamente suas energias e, finalmente, a história com Mirkandol7.

Mas agora havia um tempo para relaxar. Atlan havia tomado banho e vestido apenas um roupão. Ele pegou alguns doces e uma bebida, sentou-se em seu sofá e assistiu televisão.

Uma noite “normal” assim era rara aos portadores de ativador celular. De alguma forma, eles sempre tinham que fazer alguma coisa e nunca tinham direito ao descanso.

Assim também nesta noite. O intercomunicador soou várias vezes. Ronald Tekener e Dao-Lin-H’ay convidavam o arcônida para um jantar amanhã, Myles Kantor só queria se apresentar, Attaka Meganon entregava um relatório sobre seus projetos e testes e também o lugar-tenente de Atlan em IPRASA dava ao camelotiano um relatório preciso sobre os acontecimentos na organização.

Todavia, Atlan não atendeu, e largou tudo para a manhã seguinte. Hoje ele queria ficar sozinho e não salvar o Universo. Esta noite ele só queria ver as transmissões triviais de trivídeo e descontrair.

 

***

 

O dia seguinte começou para Atlan por volta de 11h00min da manhã. Ele não dormia assim há muito tempo. Depois de um suntuoso café da manhã, ele foi com o planador a seu escritório e se informou sobre as novidades e desenrolares de eventos que tiveram lugar em Camelot durante sua ausência.

Claro que ele já tinha sido mantido a par dos acontecimentos mais importantes na RICO. O que agora estava em sua mesa era de natureza mais burocrática. Atlan era o lugar-tenente de Rhodan em Camelot e assim tinha que também fazer seu trabalho. No entanto, ele não era verdadeiramente um burocrata que se enterrava em documentos e via isto ainda como um trabalho satisfatório. Após cerca de uma hora, ele chamou seu assistente, que devia aliviá-lo do trabalho burocrático. Ele se concentrou no essencial. Havia em uma mensagem do IPRASA que a base militar secreta de Ferryd Mir, de nome idêntico ao planeta, tinha sido atacada. Cerca de trinta arcônidas foram mortos. Muita coisa o IPRASA ainda não podia verificar. Tudo estava sob o mais estrito sigilo. No entanto, o serviço de segurança do Império não descartava que o ataque tivesse vindo de suas próprias fileiras, porque Ferryd Mir era uma das bases mais secretas do Império de Cristal. Mesmo o IPRASA não tinha muita informação sobre este mundo. Supostamente eram produzidas ali armas biológicas e químicas.

Atlan fez contato através de um canal de hiper-rádio blindado com um dos chefes do IPRASA em Árcon e lhe comunicou para coletar mais informações sobre o ataque.

O IPRASA não estava por trás do ataque em Ferryd Mir, mas quem fora da organização de resistência de Atlan estava interessado em atacar uma estação secreta arcônida? A LTL ou o Fórum Raglund? Atlan ficaria desapontado se a LTL agisse de forma tão brutal e tivesse matado trinta arcônidas. Alguns povos no Fórum Raglund seriam mais capazes de tal ato. Em particular, os aconenses eram em épocas anteriores muito especializados em operações de agentes. O Comando Energético e a Legião Azul estavam entre os exemplos mais conhecidos. Como última possibilidade, os Guardiões Galácticos estariam qualificados.

“Há ainda uma organização perigosa que você quer eliminar”, advertiu o sentido extra.

Atlan pensou na chamada Mordred — uma organização que era claramente voltada contra Camelot. Este grupo terrorista chamou a atenção, especialmente num curto tempo, porque tinha invadido alguns escritórios de Camelot em mundos remotos e destruído em grande parte.

Seu sentido extra tinha razão que Mordred seria outra alternativa. No entanto, eles ainda não sabiam muito sobre esta organização secreta. Ela trabalhou muito profissionalmente, com rapidez e com precisão! Apenas uma nave fantasma com o nome VERDUN e um “cavaleiro prateado” como um líder de operações vieram à tona repetidamente em conexão com os ataques.

Gucky tinha sabido durante o sequestro da LONDON de um filho da fonte de matéria, que a Mordred tinha fornecido armas e know-how ao pai Dannos. Também ali fora falado de um Cavaleiro Prateado. Stewart Landry, que liderou as operações juntamente com Gucky, tinha relatado sobre um coronel. Mas a espaçonave de Mordred tinha se antecipado, se autodestruindo. Desde então, eles não tinham ouvido nada deste grupo terrorista nefasto até esses ataques menores. Mas, afinal, isso fora há quatro anos e meio.

Atlan não sabia o que pensar sobre isso. Uma nave fantasma e um comandante com armadura prateada. Isso soava mais como uma história de terror. Mas ele já tinha experimentado muitos acontecimentos estranhos. Muitas vezes, o mais absurdo era o único correto.

O arcônida queria cuidar deste grupo após Shabazza ser derrotado.

Seu tolo, até lá eles exterminarão todos os escritórios de Camelot ou falecerão de velhice.

“Você acha que a Mordred está por trás deste ataque?”, ele quis saber de seu sentido extra.

“Possivelmente. No entanto, não temos informações precisas. Pode se esconder muito ou pouco por trás disso. Eu ainda não posso dar nenhum prognóstico preciso.”

“Que grande ajuda”, comentou Atlan.

Ele foi puxado de sua conversa mental com o sinal do sensor da porta. Alguém estava prestes a entrar no escritório. Atlan se ajeitou um pouco na cadeira e esperou pelo visitante.

Era Wyll Nordment. O jovem terrano ainda dava a mesma impressão de quatro anos e meio atrás, quando Atlan o tinha conhecido. Afinal, graças à equipe de resgate de Atlan puderam ser salvos quase 6.000 seres da morte certa. Se ele não tivesse aparecido na hora certa com a FREYJA, Wyll Nordment também teria encontrado a morte em 10 de dezembro do ano 1285 NCG no naufrágio da LONDON. A salvação dele fora literalmente realizada no último segundo. Rhodan tinha permitido que ele e Rosan Orbanashol viessem para Camelot. Ali, os dois se casaram, mas o matrimônio estava agora desfeito. Rosan Orbanashol-Nordment vivia na Terra e tentava ser independente, enquanto Nordment comandava o cruzador de 200 metros CALLAMON.

Externamente, ele transmitia uma impressão de controle, mas o arcônida pressentia exatamente que Nordment ainda não tinha absorvido a dor da partida de Rosan. Este era um campo no qual ele também era bem versado.

Atlan teve que pensar involuntariamente em Mirona Thetin, seu grande amor. No mesmo instante também lhe veio Ermigoa e Iruna von Bass-Thet. Ele tinha amado todas estas mulheres e ainda sentia uma saudade muito forte.

“Ou Theta de Ariga ou Nefer-Merit ou a mulher bárbara com quem você teve algo 5.000 anos antes. Pare de se deleitar no sentimentalismo. Se pensar agora em todas as suas antigas amantes, o dia vai passar e seu convidado cair no sono”, comentou sarcasticamente o sentido extra de Atlan.

Atlan gostaria de responder algo, mas no lugar ele só fez uma careta de irritação.

— Tem alguma coisa errada, Atlan? — quis saber Wyll Nordment pela expressão facial.

— O quê? Oh! Não, está tudo bem. Eu estou bem — disse Atlan.

Obviamente não veio ao terrano a ideia de que o imortal tinha novamente uma conversa com seu sentido extra.

Atlan sorriu e ofereceu a seu interlocutor um lugar e algo para beber. Nordment aceitou a ambos os gestos. O servo trouxe aos dois um copo de licor de Vurguzz.

— O que posso fazer por você, Wyll?

Nordment sentou-se um pouco embaraçado em sua cadeira. Parecia que o assunto o envergonhava. No entanto, ele foi direto ao ponto.

— Rosan vai voar na LONDON II. Eu vou voar com ela de novo.

Esta declaração surpreendeu Atlan. Especialmente desde que ele nem sabia que Rosan estaria no voo. Segundo a informação que tinha, ela não demonstrava nenhum interesse pela viagem. Pelo contrário, ela condenava o projeto de Michael Shorne de perturbar o descanso da LONDON I e fazer mau uso para negócios lucrativos.

“Talvez você devesse assistir ao noticiário, oh grande onisciente Lorde-Almirante”, alfinetou o sentido extra novamente.

“Você também não fica feliz, quando não pode resmungar?”, pensou Atlan, ainda irritado.

“Eu também não tenho nada melhor para fazer no momento”, replicou o sentido extra, sem qualquer senso de culpa.

“Se você me tivesse escutado, a respeito das suas damas do coração, você teria poupado muitos aborrecimentos”, acrescentou ele de forma mordaz.

Atlan ignorou sua voz interior e se voltou para Wyll Nordment. Ele balançou a cabeça.

— Eu não sabia que Rosan havia aceitado — comentou ele. Basicamente, esta era mais uma pergunta do que uma declaração do arcônida de mais de treze mil anos. Wyll Nordment também tinha pronta a resposta.

— Isso foi noticiado hoje. As Indústrias Shorne e também a Terra Eagle One fizeram muito estardalhaço sobre a participação dela.

Atlan tomou um gole do copo.

Terra Eagle One. Mentalmente, diante de Atlan se formou o rosto do obeso moderador Bekket Glyn. O cara tinha esbravejado grotescamente durante anos contra extraterrestres e a organização Camelot. No entanto, durante a Crise Dscherro, Bekket Glyn ganhou pontos positivos do povo, quando tinha relatado da linha de frente a luta com os chifrudos em Terrânia. Foi mais um espetáculo macabro de Glyn incitando os tanques e artilharia terranas com um capacete de aço e um uniforme falso.

“Quer ainda nos atormentar mais com aquele Bekket Glyn?”, perguntou o sentido extra.

Atlan voltou a se concentrar em Nordment.

— Eu entendo. Então agora você quer ir junto?

— Sim, é claro. Eu preciso ver outra vez Rosan. Os últimos doze meses foram terríveis para mim.

“Mais um que depois lamenta uma mulher. Vocês dois são parecidos”, ouviu mentalmente Atlan.

— Cale essa boca! — ralhou Atlan em voz alta. Wyll Nordment olhou para ele boquiaberto. O arcônida percebeu seu deslize imediatamente.

— Isso não foi para você — ele respondeu rapidamente. — No entanto, eu não posso permitir que você tire uma licença agora. A situação na Via Láctea está longe de estar resolvida. Eu preciso de todas as pessoas qualificadas aqui. Talvez também tenhamos de agir logo contra Shabazza — explicou o antigo Lorde-Almirante da USO. Camelot o lembrava vagamente a USO. Camelot também atuava principalmente em segredo e se via como um corpo de bombeiros da Galáxia. Apesar da maioria dos povos não partilhar desta visão.

Wyll ficou visivelmente irritado com a opinião de Atlan.

— Eu tenho que ir. Vou rever Rosan com ou sem o seu consentimento!

— Eu não tenho nada contra você querer rever Rosan. Mas no momento isto é desfavorável — respondeu Atlan, calmo.

— Eu não tenho escolha. Vou reservar uma passagem hoje — insistiu o jovem terrano. Atlan respirou fundo. Ele pensou por um momento, então encontrou as palavras certas.

— Eu sinto muito. Neste caso, eu tenho que lhe ordenar como superior a permanecer aqui. Cuide para que a CALLAMON esteja pronta para uso.

— O quê? — gritou Nordment, que ficou irritado e bateu os punhos na mesa de Atlan.

— Para que a nave deve estar operacional? Os tolkandenses e dscherros estão derrotados. No momento não há evidência de perigo — acrescentou ele também em voz alta.

— Os perigos potenciais devido a Shabazza podem ocorrer a qualquer momento. Portanto, devemos estar preparados — tentou justificar o arcônida.

Wyll olhou zangado para ele. De repente, ele assentiu resignado e deixou o escritório sem dizer mais nada.

“É isso aí, você resolveu de forma primorosa e com muito tato. Bravo!”, escarneceu o sentido extra.

“Eu não tinha escolha. Wyll vai se recuperar”, se defendeu Atlan.

“Com certeza aí você tem razão. Ele vai reagir exatamente como faria no lugar dele”, disse seu segundo ego

Atlan não gostou muito do tom da afirmação.

 

Capítulo 5

Os arcônidas

Árcon I

Na casa de Jenmuhs

 

Hajun Jenmuhs nasceu no sentido mais literal com uma colher de prata na boca. Como filho de um rico empresário arcônida, ele e seu irmão gêmeo Uwahn tinham tido na infância tudo que haviam pedido. Isso tinha moldado a sua vida. Ele não admitia discordância e estava acostumado a ninguém lhe recusar nada. Sem dúvida “virtudes” que ele agradecia a sua riqueza. Porém, sua aparência era menos atraente do que sua fortuna. Jenmuhs era de estatura baixa e facilmente descrito como gordo. Seus atributos internos também não eram de modo nenhum nobres. Ele era de cabo a rabo um sadista. O arcônida se deleitava em mortificar e ficar enxotando seus servos e escravos. Isso lhe dava a maior satisfação. Se um de seus naats ou neronenses cometesse uma falha, eles eram punidos de maneira desumana. Os neronenses, um povo primitivo da borda do Império de Cristal eram chicoteados ou recebiam vergastadas eletrônicas. Se um naat desapontasse seu mestre, era queimado a palavra “fracasso” na testa. A pobre criatura era posteriormente vendida para comerciantes de escravos. O governo arcônida não colocava objeções a isso, devia simplesmente não ser público. Jenmuhs possuía uma grande fábrica de armas e era um dos principais fornecedores do Exército de Cristal. Por esta razão, ele gozava de imunidade. Seu irmão gêmeo Uwahn Jenmuhs também pertencia ao círculo de elite dos arcônidas aristocratas. Mas Uwahn era atraído mais pela política. Por isso tinha pouco tempo para Hajun. Ele não queria trabalhar para sua riqueza, mas apreciá-la.

Hajun Jenmuhs estava sentado em um de seus grandes jardins de inverno, que mais parecia um jardim hidropônico. Ele tocava uma baixa e decadente música e algumas das delicadas neronenses de pele verde faziam as unhas das mãos e dos pés de seu senhor.

Sentava-se em frente dele o arcônida alto com roupas mais nobres, Attakus Orbanashol.

Attakus também tinha estado na LONDON e tinha sobrevivido ao desastre, ao contrário de seu tio Spector e sua tia Thorina. Como Spector não tinha tido filhos e Rosan tinha recebido a parte dela nos negócios da família, Attakus se tornara o administrador.

Após o desastre Orbanashol nunca mais voltara a ver sua prima por casamento e o odiado Nordment. Somente agora, através do anúncio pela imprensa de que ela participaria da viagem de cruzeiro da LONDON II, ele ouviu o primeiro sinal de vida dela.

Attakus estava em uma poltrona confortável e macia e tomava um copo do vinho arcônida Nettoruna. Jenmuhs fumava um charuto.

— Sua prima o deprime? — ele disse de maneira inconveniente.

Jenmuhs era moldado por uma tal arrogância que normalmente usava para os outros a terceira pessoa e via a si próprio no plural, como tinham feito os antigos reis na linguagem terrana8. Jenmuhs achava este um dos poucos costumes interessantes dos terranos por ele tanto desprezados.

Attakus assentiu. — Que ela ousa arrastar o semblante da minha família para a lama de novo desse jeito, eu não esperava dela. A única satisfação é que ela não está mais ligada com aquele Nordment — resmungou Orbanashol.

Hajun fez um gesto depreciativo. — Preferimos jogar um pouco de garrabo — ele sugeriu em vez de comentar. Garrabo era um jogo de estratégia semelhante ao xadrez, que ainda gozava de grande popularidade em Árcon. O jogo era tão velho quanto a própria Árcon. — Kero, ele vai buscar para nós e ele o jogo de garrabo — ele ordenou a um de seus servos. Ele era um neronense. Seu nome era Aruny. Kero era sua designação. Significava algo como lixo. Jenmuhs intitulava todos os seus servos assim. — Sim, vossa Zhdopan9, eu vou correndo! — respondeu Aruny submisso e saiu correndo para buscar o jogo. — Deixe para lá, Hajun. Não estou com vontade hoje — rejeitou Attakus. — Hum, se ele quer. Kero, leva o jogo de volta para o lugar dele. Ele se apressa — mandou o anfitrião de mal-humor.

Jenmuhs ouviu atrás dele um andar pesado e grunhido. Era um okrill. O animal era mantido pelo arcônida no jardim de inverno. Ele tinha bastante espaço no enorme jardim. Na verdade, apenas os oxtornenses eram considerados mestres dos enormes animais, mas este okrill era artificialmente influenciado. O okrill tinha sido um presente do parceiro de negócios de Jenmuhs, Michael Shorne. Provavelmente era um okrill criado artificialmente que tinha sido condicionado. O ser era amansado com a ajuda de um sensor. Ele reconhecia a voz de seu dono, também podia compreender certas ordens e as executar. No entanto, o okrill nas mãos de Jenmuhs não era um animal de estimação, mas uma arma perigosa. Attakus também pegou um charuto e deu um trago longo. Ele tinha uma expressão pensativa. Isto também foi percebido pelo outro arcônida. — Ele se preocupa demais com a putinha — observou ele.

— Mas nos parece também não poder mudar nada disso. Por isso, nossa sugestão é que ele se dirija para a espaçonave e a veja outra vez — acrescentou o gordo, como se fosse um oráculo.

Orbanashol olhou espantado para Jenmuhs. Ele esperava qualquer coisa, mas não isso. Jenmuhs era um inimigo declarado dos terranos. Ele os abominava e se referia a eles muitas vezes como protozoários. E vem ele agora propor que Attakus devia ir para a LONDON II rever Rosan.

— Para que isso serviria? Eu não a quero mais como minha esposa.

Jenmuhs deu uma risada áspera.

— Mas ele se sente humilhado pela vadia. Por isso, ele deve recuperar sua honra. Mas isso ele só consegue se ele também a humilhar e se desforrar.

Attakus concordou lentamente. Havia verdade na fala de Jenmuhs. Ele pensou por um momento, então ele começou a sorrir.

— Eu acho que você está certo, velho amigo. Vou reservar hoje mesmo uma passagem na LONDON II.

O arcônida gordo levantou a mão.

— Não, ele e nós voaremos juntos. Gente como nós não deixa escapar um cruzeiro divertido assim. É hora de nós deixarmos as criaturas pequenas e infantis da Galáxia sentir a nossa superioridade — balbuciou ele rindo.

Então ele começou a tossir. Quanto mais isso durava, mas Attakus achava nojento. Jenmuhs chutou para longe as duas neronenses e gritou por um copo de água. Aruny se aproximou rapidamente, mas tropeçou na almofada de pé e ensopou seu mestre com a água.

— Ele é um maluco? Ele é um animal estúpido? — rugiu o feio arcônida. Aruny tentou se desculpar.

— Senhor, me perdoa. Vossa Zhdopan, por favor — implorou ele de joelhos.

Mas Hajun Jenmuhs não fez nenhuma menção de se acalmar. Ele tossiu e resfolegou ainda mais. Um naat lhe deu um copo de água. Ele sorveu precipitadamente o líquido e fungou por um tempo até que finalmente se acalmou.

Attakus assistiu ao espetáculo bem quieto. Jenmuhs olhou para seu servo furioso.

— Ele será punido por isso — ele rosnou para Aruny, que ainda estava de joelhos.

— Por favor Zhdopan, mostre clemência — disse ele em voz baixa.

— Clemência? — gritou Jenmuhs de forma estridente, fazendo doer os ouvidos de Attakus.

— O kero exige misericórdia! Isso sim é engraçado. Guardas!

Imediatamente vieram quatro guardas em vestes nobres. Eles pertenciam a guarda pessoal de Jenmuhs, que consistia de cerca de trezentos mercenários, mas todos tinham treinamento no Exército de Cristal.

Um dos guardas se aproximou de seu senhor.

— Vossa Zhdopan, meu serviço!

Esta declaração significava que ele esperava as ordens de seu mestre. Este respirava agora calmamente de novo.

— Nós vamos mostrar misericórdia — disse ele pomposamente.

Aruny se jogou no chão e beijou os pés de meu senhor. Este era considerado como um agradecimento. Muitas vezes ele tinha que fazer isso.

— Obrigado, vossa Zhdopan.

— Nós deixaremos a fêmea dele em paz. Ela consegue cozinhar bem. No entanto, ele será punido. Corte os dedos do pé e da mão dele. Depois daí nada mais será atirado por ele, mande-o de volta para seu mundo de macacos Neron.

Aruna gritou. Os guardas agarraram e arrastaram o neronense ainda choramingando por misericórdia. Ele se libertou e voltou rastejando. Jenmuhs revirou os olhos e assobiou para seu okrill. O monstro adestrado seguiu imediatamente a palavra “jorron” o que significava que era para atacar sua presa. O okrill investiu contra o neronense gritando e o dilacerou com as garras de uma de suas enormes patas dianteiras. Em seguida, o animal começou apreciativamente a comer as entranhas do neronense.

Attakus sentiu-se mal com este espetáculo cruel. Claro que o neronense não significava nada para ele, mas teria sido suficiente uma demissão como punição. Mas Jenmuhs era predisposto a ser extremamente sádico. Um arrepio percorreu a espinha de Attakus, ele fechou os olhos, mas os grunhidos e os ruídos de mastigação o fez estremecer. Jenmuhs pediu desculpas por este incidente e pediu um novo copo de Nettoruna.

— Ficamos com fome. Nos sirvam uma sopa. Será que ele também quer alguma coisa?

Attakus balançou a cabeça.

— Não traga nada para ele. Então, para nós, duas sopas, mas antes leve essa sujeira para longe.

Jenmuhs ergueu a taça.

— À viagem da LONDON II. Isto irá garantir diversão a nós e a ele.

 

Capítulo 6

O dia anterior à partida

Terra

05 de junho do ano 1290 NCG

 

Michael Shorne já estava um pouco nervoso na véspera da decolagem da LONDON II. Ele ficava andando de um lado para outro em seu escritório, apertando a bola de plástico e estudando as cotações mais recentes da bolsa de valores. Seu mão direita, Thomas Zchmitt, entrou no escritório. Ele também tinha um carisma antipático como seu chefe. Zchmitt vestia um terno cinza. Seu cabelo era curto e seu rosto enrugado. Seus traços faciais o faziam parecer um homem sério. Ele deu a mão a Shorne e perguntou se ele estava bem. Shorne falou que estava um pouco tenso, mas contente com seu grande dia.

Michael sugeriu irem comer alguma coisa. Como ambos não tinha muito tempo, e Zchmitt ainda tinha algumas coisas para discutir com Shorne antes da partida deste, eles foram para uma lanchonete em frente do edifício das Indústrias Shorne. Um epsalense corpulento estava no balcão e atendeu os dois. Shorne pediu um cachorro-quente com cebolas, mas quando foi servido ele de repente disse que tinha pedido sem cebolas. — Ei, cara! O que é isso? Eu tinha pedido um sem cebolas. — reclamou o multibilionário.

O epsalense foi mal-educado. — Não, você pediu um com cebolas. Se você não sabe o que pediu, não é culpa minha.

Shorne jogou fora o cachorro-quente e saiu com Zchnitt para o escritório. Este tirou um intercomunicador e discutiu algo com uma empresa. Shorne olhou para ele e Zchmitt acenou com a cabeça de que o assunto estava resolvido.

Ao retornarem ao escritório, Zchnitt começou com os informes.

— Verifiquei a lista de passageiros. Temos 17.512 passageiros a bordo. Assim, quase todas as cabines estão reservadas. Então podemos falar de um sucesso. Mais passageiros do que tinha a velha LONDON — disse ele bem comedido. Sua voz era calma e fria. Ele parecia ter considerado cuidadosamente cada palavra.

— Muito bom, Thomas. E quanto aos meios de comunicação? — perguntou Shorne.

— Três dúzias de emissoras desejam transmitir a partida da LONDON II ao vivo amanhã. Além disso, cerca de 200 jornalistas se registraram — relatou o terrano.

Shorne abriu um amplo sorriso.

— Nós realmente conseguimos! — comemorou ele ruidosamente.

Zchmitt elevou brevemente os cantos da boca, o que significava quanto muito um sorriso. — Há ainda outras boas notícias. Wyll Nordment se registrou — continuou ele.

Shorne ficou tão surpreso que lhe faltou palavras.

— Quem disse que os grandes heróis da LONDON I só vinham na marra? Agora eles vêm voluntariamente a mim — observou Shorne, eufórico.

— Ainda temos muito a fazer. Tenho que começar a fazer as malas. Você também, Thomas — disse Shorne e deu a entender que a conversa tinha acabado, mas Zchmitt continuou parado. — Há mais?

— A Sol-News. O que vai ser do jornaleco? Se as informações sobre Gol Shanning se tornarem públicas e o crédito rescindido?

Shorne sentou-se e voltou a brincar com a bola elástica. — Shanning manteve sua palavra. Mas isso não significa que também temos de manter. O crédito deverá ser rescindido em dois dias. Shanning vai ter um retorno divertido.

Zchmidt deixou satisfeito a sala, enquanto Shorne olhava pela janela.

Alguns agentes de segurança mandavam evacuar a lanchonete. A seguir vieram os robôs de construção e derrubaram o imóvel.

Shorne sorriu. Ninguém o contrariava impunemente.

 

Capítulo 7

A nova LONDON

Terra, Sistema Solar

07 de dezembro do ano 1290 NCG

 

A LONDON II pairava sobre o espaçoporto comercial Point Surfat em Terrânia e lançava uma grande sombra. Ela era uma atração e diferia em tamanho e design das bem mais simples nave esféricas. Várias torres e passarelas estavam conectadas à nave de 1.600 metros de comprimento. Ao contrário do voo inaugural da LONDON I, Michael Shorne conseguira das autoridades da LTL que “sua nave” pudesse “pousar” diretamente no porto comercial. De início, especialmente da administração local da Terra, houvera rejeição, mas um pouco de pressão sobre os círculos apropriados da liderança da LTL tinha feito rapidamente os céticos mudarem de ideia.

A nova nave divergia da primeira LONDON em poucos detalhes. A parte superior, na qual eram alojados os passageiros e tripulantes, era como um navio de luxo terrano. Três grandes torres se sobressaíam. Na frente havia uma grande cúpula de vidro. No centro ficava o salão estelar. A área traseira era dominada pelos propulsores.

Os propulsores e hangares estavam sob a parte em forma de disco da nave, sob ela havia uma grande aleta onde estava escrito em letras douradas o nome da nave. Shorne tinha tido de atender certos requisitos, aprendidos com o desastre da LONDON I. Junto aos campos condutores redundantes e protegidos individualmente e acumuladores gravitraf descentralizados, tiveram de ser instaladas escotilhas de segurança mecânicas que eram capazes na ausência da energia de forma de selarem hermeticamente as seções da nave. A sintrônica de bordo foi protegida por várias camadas de firewall descentralizadas e acoplada a uma contraparte sintrônica que deviam juntas parar um ataque de vírus de forma eficaz. Além disso, os sistemas de armas ofensivas e defensivas foram significativamente reforçados. Apesar de seguir o estilo antigo na parte interior, que por sua vez fora inspirado nos séculos XIX e XX da Terra, agora havia paredes sólidas de metal-plástico e um esqueleto contínuo em inconite, garantido uma estática passiva muito maior, como no projeto original. Este princípio fora aplicado especialmente para as “torres” que tinham provado ser uma séria fraqueza da construção antiga no naufrágio da LONDON.

Fora isso, Michael Shorne tinha dado muita importância que se apontasse na campanha publicitária iniciada por ele que a LONDON II estava em condições de se defender em caso de ataque. Três plataformas de canhões conversores duplos pesados com calibre de até 3.000 GT e quatro postos de combate com multicanhões conferiam à nave de cruzeiro o poder de combate de um cruzador pesado, enquanto no aspecto defensivo, campos paratron e SAE que honrariam a qualquer couraçado.

O comandante da LONDON II era o terrano octogenário Roy Cheidar. Ele tinha um rosto marcante, magro, amável e cabelos grisalhos curtos. Em seu uniforme ele parecia asseado e como um nobre cavalheiro Inglês.

Roy Cheidar crescera em uma pequena cidade litorânea da Califórnia. Depois da conclusão de uma boa escola, ele tinha embarcado em uma carreira na frota da LTL. Ali Cheidar chegara longe e fora comandante de uma espaçonave NOVA. Durante a crise tolkandense, ele fora um dos oficiais mais competentes. No entanto, após a Crise Dscherro, houvera um desentendimento entre ele e Cistolo Khan. Cheidar discordara da política da frota de Khan. Ele propusera reformas amplas para melhorar a eficácia militar da LTL, mas Khan rejeitara. Em consequência, Cheidar abandonara o serviço. Ele se retirara por alguns meses para uma ilha tranquila no Pacífico, mas sua esposa morrera em um incêndio e houvera a perda de sua propriedade por problemas com o seguro. Pouco depois, a CIS lhe oferecera um contrato lucrativo como comandante da LONDON II. Cheidar aceitara por razões financeiras. No entanto, ele não pudera selecionar sua equipe de comando, pois Michael Shorne, ou melhor, sua mão direita Thomas Zchmitt, tinha feito a seleção da tripulação.

Então Cheidar teve de trabalhar com pessoas que ele nunca tinha visto antes e que ainda não tinha atuado como uma equipe. O primeiro-oficial era uma mulher chamada Eireen Monhar. A ainda jovem plofosense era conscienciosa e de princípios. Isso não se ajustava muito com Cheidar. Já na LTL, ele nunca tinha se dado bem com pessoas que viviam apenas de acordo com as regras. Ele muitas vezes ignorava as regras, a fim de alcançar seu objetivo. Ele não acreditava que alguns parágrafos e leis poderiam decidir tudo por uma pessoa.

O segundo oficial Huck Nagako era um jovem terrano, que nascera em um arquipélago, que tinha antigamente formado a região do Japão. Outros membros importantes da tripulação eram o meio pateta chefe de segurança Louis Clochard, o engenheiro-chefe alemão Udo Arenz e o ara Badi Doranee, como chefe da assistência médica dos passageiros, que também atuava como médico de bordo.

Cheidar não teve muito tempo para conhecer sua tripulação. Mas seu julgamento foi relativamente satisfatório. Ele não voaria em uma missão perigosa com essas pessoas, mas ele acreditava que elas estavam em condições de trabalhar em uma nave de cruzeiro.

O terrano estava na central de comando e fazia as verificações finais antes da decolagem. Nos muitos monitores e hologramas ele via como os milhares de passageiros invadiam o salão de entrada. No espaçoporto reinava um grande tumulto. E outros tantos terranos e extraterrestres estavam nas passarelas para se despedirem de seus parentes ou amigos. Vários robôs-câmara flutuavam pelo ar transmitindo o evento para a Galáxia.

 

***

 

Pelos corredores do salão estelar estava Suzahn Roeme, a gerente da viagem de cruzeiro da LONDON II, e saudava os convidados. A mulher gordinha de meia-idade parecia amigável e franca. Ela cumprimentava cada hóspede com um sorriso caloroso. Ao seu lado estava o comissário Gopher Fred. O terrano que parecia um pouco anêmico tinha um forte senso de humor e se dedicava especialmente aos passageiros do sexo feminino.

Um casal de idosos se aproximou dele.

— Bom dia. Nós somos os Braunhauer — começou o homem. Ele era baixo, de cabelos brancos e barrigudo. Então a mulher entrou na conversa: — Nós estamos procurando o... o... bem... você sabe... o... — ela gaguejou. Gopher tentou segui-la, mas não sabia exatamente o que ela queria dizer.

— O que houve, Ottilie? — o marido se voltou para ela.

— Por que você está sempre tão nervoso, Vatichen? — disse Ottilie esticando as palavras

Então ela se aproximou de Gopher.

— Você sabe, meu marido está sempre tão nervoso. Tudo está relacionado com os nervos. Alugamos alguns apartamentos para férias em... em... bem, onde é mesmo? Ah, sim, em Atlan Village. Aquilo é sempre tão estressante! Meu marido tem sim muito que fazer ali e, além disso, ele também é tão doente. Então, ele foi recentemente no hospital e tinha uma operação na virilha dilatada dele — ela relatou extensivamente. Gopher apenas sorria compreensivo, mas não estava. — Agora não, Ottilie! — ralhou o marido, Karl-Adolf Braunhauer, com ela. Aparentemente, esta questão era bem embaraçante.

— Ah bem. Bom homem, nós estamos procurando nossas... coisas, bem, como se chama o lugar onde se deve ir aqui?

— A cabine de vocês? — perguntou Gopher.

— Sim, isso mesmo! — berrou Braunhauer em um tom áspero.

Gopher pegou sua lista de verificação e inseriu o nome dos dois. Prontamente veio o resultado.

— Vocês estão na cabine 33 no convés G. Um droide pode levá-los até lá. — Gopher acenou para um robô de serviço, que imediatamente cuidou da bagagem dos dois aposentados.

— Eu lhes desejo uma boa viagem — se despediu Gopher.

— Adeus. Tchau, tchauzinho — gritou Ottilie para o comissário.

— Espero que não — Gopher sussurrou para si mesmo após os Braunhauer terem subido em um dispositivo antigravitacional.

Um terrano alto em um traje fino foi para o comissário um pouco agitado.

— Meu nome é Sven Fochtmann. Eu sou um homem de negócios e reservei uma cabine de primeira classe para mim. Além disso, dez cabines da classe turística para meus funcionários — disse o empresário.

Gopher informou que ele estava na cabine A-100, e apontou para um servo levar a bagagem a esta cabine. Os criados de Fochtmann foram alojados no convés Z-2. A área de passageiros da LONDON II era constituída de 52 conveses, que foram nomeadas em ordem alfabética e numérica. Os conveses de A a C eram os da primeira classe. Também havia duas variedades. As suítes no convés A eram maiores e mais luxuosas do que as outras 500 cabines dos conveses B e C. Assim também eram mais caras. Shorne calculou que viriam cem galácticos a bordo que podiam pagar por tais cabines.

A cabine de uma suíte A tinha cerca de 200 metros quadrados, cinco quartos, uma sauna e uma piscina.

As cabines de primeira classe dos conveses B e C ou não tinham piscinas ou tinham dois andares e também eram “de apenas” 150 metros quadrados.

Do convés D até o convés Q foram montadas as cabines de segunda classe, que ainda tinham 80 metros quadrados e ofereciam todos os confortos que se poderia desejar por esse preço. A terceira classe era do convés R ao W, ficando a classe econômica do convés X ao Z. Entre estes conveses encontravam-se os alojamentos da tripulação, depósitos e locais para os animais de estimação dos passageiros e os jardins hidropônicos e produção animal.

Os vários restaurantes e refeitórios eram correspondentes às classes de passageiros, assim se tentava separar os passageiros de acordo com o seu estado social. Ao contrário da antiga LONDON, a primeira torre era utilizada exclusivamente para o uso recreativo da primeira classe. Os luxuosos restaurantes, cinemas, centros de lazer, parques, holossuítes, ginásios, spas e piscinas existentes ali eram especialmente concebidos para a “elite” financeira. Havia até mesmo um gravocampo de golf que poderia produzir as condições de diferentes campos gravitacionais. No geral, esta área foi projetada para 1.200 passageiros e oferecia aos altos membros da aristocracia abastada e seus parasitas todo o luxo imaginável. No entanto, o centro da espaçonave ainda era o salão estelar, que era acessível aos passageiros de todas as classes. A maioria dos serviços de lazer, clubes, áreas de relaxamento e restaurantes ficavam ali. Também havia várias exposições de empresários, artistas e cientistas para se admirar.

Capítulo 8

A missão do mascant

 

A HOZARIUS XIV se materializou do hiperespaço diretamente na borda do Sistema Solar. Ela entrou em velocidade subluz e desacelerou rapidamente.

O cruzador de combate foi contatado por uma plataforma de localização. Dentro de poucos segundos obteve uma resposta da estação de vigilância terrana.

O orbton Erom Mesun disse ao serviço de segurança que o mascant Prothon da Mindros queria ir com um escaler para a LONDON II, para participar da viagem a London’s Grave. Assim foi determinada que a HOZARIUS XIV atracasse na borda interna do Cinturão de Asteroides.

Mindros foi informado que o escaler estava pronto para decolar. O arcônida estava sentado em sua cabine de aparência militar. Ela estava cheia de armas vindas de todas as culturas conhecidas da Galáxia. Havia de tudo na coleção, desde a simples espada dagor até as mais modernas armas de alta potência. Mindros estava consertando um radiador térmico gatasense, que tinha no mínimo 1.000 anos de idade.

Mesun foi à cabine e fez a comunicação.

— Mascant, os terranos nos determinaram uma posição de estacionamento na borda do chamado Cinturão de Asteroides. Logo que a atingirmos, seu transporte especial estará preparado.

Mindros colocou cuidadosamente a arma antiquíssima em um suporte, e se virou para o oficial.

— Muito bom, orbton Mesun. Os outros do grupo de ação já estão no território inimigo?

— Já recebemos a mensagem do nosso comando. Eles esperam apenas a sua chegada — disse o jovem arcônida.

— Bom, então não vou deixá-los esperando. Estarei em dois minutos no hangar.

Com isso a conversa tinha terminado para Mindros. Mesun o saudou batendo sua mão no peito e juntando seus calcanhares, e saiu da sala.

O mascant permaneceu sentado ainda por um curto tempo perdido em suas lembranças. Ele ativou um holograma 3D. Este mostrava uma bela arcônida com duas crianças. Era a sua família.

A imagem fora feita no quinto aniversário de seu filho Carba no ano 1281 NCG. O menino não tinha visto seu décimo aniversário. Ele havia tido grandes planos para ele e já estava registrado na Paragetha10 em Árcon I, para lançar a pedra fundamental para uma futura carreira na Frota de Cristal. Ele devia alcançar poder e reconhecimento dentro do Império de Cristal e na Galáxia para a casa da Mindros. O futuro de sua irmã Esrana também já havia sido planejado, primeiro ele tinha instigado um casamento pelo status social com a família da Orcast, mais tarde ele planejava abrir o caminho da sua filha para a política imperial.

Ele sentia tanta falta de seus dois filhos e de sua esposa Terza!

Tudo se tornara vazio e desolado, e sua dor era tão infinitamente grande que ela causava medo e terror nele.

 

***

 

A única maneira de evitar que sua dor o matasse, era ele permanecer no ódio. Este era dirigido contra os terranos. Aos seus olhos, eram eles os culpados pela morte de sua família. Sua repulsa em especial era feita a Perry Rhodan. Provavelmente o bárbaro mais uma vez tinha se imiscuído em coisas que não lhe diziam respeito e muito presumivelmente provocado a ira de algum poder cósmico. Este provavelmente aproveitara as atividades autocráticas dele para dar um exemplo sem precedentes a crueldade dele. E o que mais o amargurava era que a vítima não fora ele, nem seus malditos cúmplices, mas precisamente sua família, que não tinha nada a ver com sua disputa com qualquer entidade. Mas assim eram eles, os malditos terranos, eles estabeleciam alguma base moral se alguma coisa dava errado de que naturalmente não tinham sido eles — Não, os outros eram sempre os culpados.

Mas isso finalmente acabou, e ele cuidaria para que isso acabasse de uma vez por todas.

Ele tinha sugerido muitas vezes ao Zhdopanthi11 após este evento para erradicar da Galáxia o problema dos terranos com meios militares, mas o begum queria esperar.

O anúncio espalhafatoso do industrial terrano Michael Shorne, de que iria ser profanado, com uma viagem recreativa, o local de descanso de sua família no planeta aquático sem nome, que era denominado pelos terranos em sua arrogância infinita por London’s Grave, quase o enlouquecera. Agora ele não mais via outra opção do que ele próprio agir.

O derradeiro local de descanso de seus entes queridos nunca deveria ser perturbado pelo turismo sensacionalista vulgar da alta sociedade galáctica.

Ele estava tremendamente ciente de que seu plano ia contra sua honra como mascant da Frota de Cristal e representava um crime contra a civilização galáctica, pois muitos inocentes perderiam suas vidas, mas, e repetia isso para si mesmo para trazer algum silêncio a sua consciência, no fim não havia inocentes nesta infâmia, pois ninguém fora forçado a fazer parte desta viagem recreativa de puro sensacionalismo e emoção. Seja como for, agora não lhe restava nada mais do que dar o exemplo se ele quisesse proteger a memória de sua família arrebatada dele.

O mascant se levantou da cadeira e começou a andar de um lado para outro impacientemente pela cabine. Por fim ele verteu managara, de uma garrafa disponível, em um copo e apreciou o aroma que emanava e o efeito acalentador da bebida levemente amarronzada. Normalmente ele repudiava o consumo de bebidas alcoólicas a bordo de uma nave espacial, mas ele já não mais se considerava um oficial do Gos’Tussan. Por si só seu plano colocaria a ele, que possuía a confiança irrestrita de seu begum, a margem da sociedade arcônida, não restando alternativa ao Tai Moas senão expulsá-lo com desonra da Frota de Cristal e despojá-lo da cidadania arcônida.

Resoluto, ele tomou em um gole e saudou pela última vez:

Pelo poder e glória de Árcon, e — acrescentou depois de uma breve pausa — pela honra da minha mulher e dos meus filhos!

Após estas palavras, ele arrancou do ombro suas insígnias de mascant e suas condecorações.

Mais uma vez ele repassou mentalmente seu plano. O destino da LONDON, juntamente com seus passageiros sensacionalistas, estava selado, e nada, absolutamente nada, podia dar errado. Seu novo aliado asseguraria isso em interesse próprio.

Hesitante, ele ficou diante da porta, quando ele pensou em seu “aliado”. Quanto ele tinha afundado para utilizar os serviços de assassinos e lunáticos? Mas, como era mesmo aquele provérbio que os malditos terranos sempre utilizavam? Ele pensou por um momento, então relembrou.

O... O fim justifica os meios.

Involuntariamente ele retesou os ombros.

O que podia ser mais sagrado do que o repouso sepulcral da sua família?

Ele tinha encontrado um aliado solícito e grato na Mordred. Não tinham permanecido ocultas as atividades deste bando de assassinos do Tu-Ra-Cel, ao contrário do serviço secreto incompetente dos terranos. Mas estes se dirigiam principalmente contra a LTL e Camelot, porque os celistas deveriam intervir? Quando ele começou a implementar seu plano, ele fez uso de suas ligações com o cel’mascant12 Sargor da Progero e tinha feito por vários canais, pelo que lhe tinha informado o comandante supremo dos celistas, contato com a Mordred.

Assim tinha finalmente chegado a uma reunião com a liderança dos criminosos. Tudo nele ainda lutava contra cooperar com esta organização, mas como disse, o fim justifica os meios!

O humano de aparência marcial, que se apresentou como o Cavaleiro Prateado Cauthon Despair e dava a impressão de um maluco em seu uniforme fantasioso de armadura e traje espacial, oferecera-lhe o apoio total de sua organização. Ainda pior do que o Cavaleiro Prateado fora aquele que se chamava el Kekum, ou algo parecido. Segundo o dossiê da Tu-Ra-Cel, este não era mais do que um megalomaníaco sadista e assassino em massa. Se ele tivesse sido um cidadão do Império de Cristal, ele estaria há muito tempo na surdina, ou seja, estaria diante de um pelotão de fuzilamento sem qualquer atenção pública. Era incompreensível para ele, como uma nação com a LTL, que supostamente dava tanto valor à democracia e aos chamados direitos dos seres, podia cooperar de alguma forma com este psicopata. Assim ele teve de relembrar dolorosamente que protegia, por razões econômicas, seu Império de Cristal no planeta Mashratan. Embora a Gos’Tussan aceitasse as sanções, sempre colocava um veto no Galacticum, quando se tratava de degradar Kerkum.

Na luta pela supremacia na Via Láctea, ambas as partes se serviam de organizações e administrações sombrias para aumentar seu poder de influência. No fim, ele não agia de modo diferente mesmo sendo profundamente repugnante.

Estes autoproclamados herdeiros da Lemúria não eram seu problema, constituíam apenas instrumentos úteis da sua vingança.

Ferryd Mir tinha sido sua operação, transportar armas e equipamentos despercebidos para a LONDON seria a tarefa da Mordred.

Agora ele logo teria a realização de sua vingança. Ele tinha escrito uma declaração pessoal para o begum, que devia ser transmitida a ele dez dias após a decolagem da LONDON. Nesta declaração ele tinha exposto seus motivos e também anexado tanto um dossiê como uma avaliação pessoal da Mordred. Ele sabia que o Zhdopanthi entenderia e aprovaria seus motivos. Publicamente, este se distanciaria de seus atos e descreveria com dor e pesar como o crime de um almirante enlouquecido. Como última esperança, ele juntava com seu sacrifício a expectativa de que Gaumarol, agora após a sua saída da frota ele podia chamar seu velho amigo pelo primeiro nome, seguiria sua recomendação e eliminaria da Galáxia o problema dos terranos.

Por isso, ele também tinha enviado um despacho pessoal para a chefe de governo da LTL, que seria entregue ao mesmo tempo, e na qual ele assumia a responsabilidade pelo fim da LONDON. Ele tinha silenciado sobre os motivos de suas ações e não mencionado nenhuma palavra da Mordred; tudo que enfraquecia os terranos acabaria só beneficiando o Império de Cristal.

Suas mensagens poderiam vir a causar uma guerra entre o Gos’Tussan e os terranos, que eliminaria definitivamente o problema com estes bárbaros e seria seu último serviço para Árcon.

 

***

 

Ele olhou para seu cronógrafo. Estava na hora de partir. Altivamente, ele foi para o grande hangar do couraçado e supervisionou o carregamento do pequeno escaler. As rochas eram mantidas em um campo de estase, para suprimir o efeito dos propulsores metagrav, e dissimuladas como antigas relíquias da cultura syraniana.

Mindros deu as últimas instruções a seu primeiro-oficial, Therbo Jaron. A HOZARIUS não devia regressar para Árcon. Jaron confirmou as instruções e se despediu de seu almirante. Então Mindros tomou o caminho para uma missão que selaria o destino de milhares de seres e talvez desencadearia uma guerra.

 

Capítulo 9

Celebridades na LONDON II

 

Michael Shorne chegou acompanhado de Thomas Zchmitt em um planador ao espaçoporto comercial de Point Surfat. Os jornalistas se aglomeraram ao redor do veículo, e tentaram tirar algumas palavras de Shorne.

O pessoal de segurança, no entanto, soube habilmente proteger o proprietário da LONDON II.

Depois dos dois, chegou no espaçoporto também o planador de Gol Shanning e Rosan Orbanashol-Nordment. Esse era o grande momento para os repórteres. Primeiro Gol Shanning desceu lentamente do planador e olhou em volta. Então, deu sua mão a Rosan e a mais famosa sobrevivente do desastre — além de Perry Rhodan — saiu do planador. Rosan tinha preso para cima o cabelo e usava um conjunto branco.

Os jornalistas tentaram afastar a segurança, mas esta consistia na maioria de ertrusianos e eram senhores da situação.

— O que está sentindo ao rever agora a LONDON? — Rosan ouviu da multidão. Ela tentou ignorar a pergunta.

— Como você consegue ficar em paz com sua consciência participando desta viagem e profanando o túmulo da LONDON? — perguntou outro repórter pouco ético.

Rosan preferiria voltar para o planador, mas ela não poderia deixar Gol na mão. Dela dependia seu futuro. Shorne e Zchmitt saudaram efusivamente os dois exuberantemente diante dos jornalistas.

— Sempre sorrir, Gol. Isso facilita com a imprensa — comentou ironicamente Shorne. Mas Shanning não estava com vontade de sorrir. Ele preferiria era estrangular Michael Shorne, mas no momento ele não tinha escolha senão participar do jogo de Shorne.

Os quatro caminharam pelo hall principal diretamente para a ponte de comando, onde diversos jornalistas já estavam para testemunhar a ordem de decolagem.

— Hoje é um grande dia — disse Shorne pomposamente.

 

***

 

Suzahn Roemee, Fred Gopher e os outros tripulantes tinham muito a fazer. Os passageiros se reuniam em massa pelo salão de entrada e muitos não conseguiam se orientar sozinhos pela nave gigante.

Um pequeno grupo caminhou em direção a Gopher. Entre os quais quatro naats, seis neronenses com malas pesadas, dois mordomos arcônidas e dois arcônidas, que Gopher identificou como Hajun Jenmuhs e Attakus Orbanashol. — Ele nos diz em que cabine permaneceremos durante a viagem — começou Jenmuhs em sua maneira habitual de falar.

— Como é? Quem vai lhes dizer isso? — perguntou Gopher irritado.

— Ele nos dirá — respondeu Jenmuhs inexpressivamente.

Gopher olhou suplicante para Attakus Orbanashol, que entendeu rapidamente onde estava o problema.

— Bom homem, nós queremos ser levados à nossa cabine. Com “ele” Hajun Jenmuhs quer dizer você — explicou o Orbanashol.

Nesse ínterim, alguns repórteres tinham reconhecido Attakus e correram para ele.

— Attakus Orbanashol, meu nome é Katie Joanne. É uma grande surpresa você aparecer aqui, depois que você processou a companhia cinematográfica por calúnia e condenou a viagem iminente. O que o levou a participar do voo? — quis saber a famosa repórter, que já durante a Crise Dscherro tinha se exacerbado em sua profissão.

Attakus se aprumou e fez uma pausa artística, antes de ele começar a falar. — Eu nutro o temor de que a honra da minha família será arrastada para a lama. A presença da minha prima a bordo desta espaçonave corrobora as minhas suspeitas. Ela se vendeu e está disposta a caminhar sobre os cadáveres. Eu, pelo contrário, quero saber como impedir isso. O túmulo da LONDON I, que é equivalente ao lugar de descanso final dos meus parentes mais próximos Spector e Thorina, não pode ser profanado sob quaisquer circunstâncias — Durante algum tempo os jornalistas ficaram calados, então Joanne voltou a perguntar: — Isso significa que você vai tentar impedir que Shorne faça sua expedição submarina?

A conversa tomou um rumo desagradável para Attakus. Ele não contara com isso, mas não havia mais como voltar atrás.

— Não admitirei em circunstância nenhuma que o túmulo dos meus parentes seja profanado — ele arengou teatralmente.

Os jornalistas agradeceram por suas palavras e queriam ir para o centro de comando, quando o jovem Orbanashol voltou a falar.

— Mais uma coisa. Eu fui retrato como um monstro inumano pelos terranos. Mas agora pergunto, quem é que quer profanar por dinheiro o descanso final de mais de 10.000 seres? Rosan sabe bem que os ossos do padrasto dela e da própria mãe ainda estão nos destroços da LONDON e ainda assim ela não tem escrúpulos de ir no voo.

Estas palavras pareceram repercutir nos jornalistas, mas veio o sinal de decolagem e eles foram tão rápido quanto puderam para o convés A.

— Bem falado — elogiou Jenmuhs.

Attakus exibiu um sorriso arrogante e foi com seu amigo para o convés A, para ir para sua cabine. Por uma coincidência interessante, eles tinham as suítes A-4 e A-5. Rosan e Gol Shanning tinham a suíte A-2.

 

Capítulo 10

A decolagem da LONDON II

 

Começaram os preparativos para a decolagem na ponte de comando. Cheidar estava de bom humor e de algum modo se alegrava com o voo, embora em outras circunstâncias não tivesse aceitado a oferta e não simpatizasse com Michael Shorne.

Sua primeira-oficial Eireen Monhar se voltou em saudação diante do comandante.

— Senhor, todas as verificações do sistema em ordem. A nave pode decolar como planejado — informou ela laconicamente.

Roy Cheidar sorriu. Ela era, sem dúvida, orgulhosa, ainda que exagerasse em sua consciência de dever.

— Café? — perguntou ele. Monhar olhou em volta contrariada e olhou para Cheidar com a mesma expressão.

— Como, senhor?

Ela ficou visivelmente desconfortável com esta pergunta. Isso deixou Monhar embaraçada e ela não gostou deste sinal de fraqueza.

— Coisa preta, muita cafeína. Você devia pegar, um gosto realmente excelente — respondeu Cheidar e tomou um pequeno gole.

Eireen deu um leve sorriso e também pegou um copo. Após a plofosense, com cabelos de comprimento médio vermelhos e olhos azuis penetrantes, ter bebido um pouco da bebida preta, ela corroborou com o ponto de vista de Cheidar e voltou a se concentrar no trabalho.

Cheidar se postou no console de controle e lidou impacientemente com o aparelho.

— É hora de se pôr a caminho. Mas, pelo que vejo lá embaixo, os passageiros não estão apressados.

 

***

Suzahn Roemee e Fred Gopher tinham uma expressão estressada. A multidão de convidados tinha perguntas que pareciam intermináveis.

Um jovem terrano num traje informal e um saco grande parou diante de Gopher, para olhar ao redor. O comissário de bordo foi imediatamente ao convidado.

— Como posso ajudá-lo? — ele perguntou educadamente.

— Oh, obrigado, amigo! Mas eu conheço aqui — disse o terrano e pegou sua bagagem. Ele foi para o elevador antigravitacional e se transportou para o convés A.

A multidão decrescia agora lentamente. Gopher notou que um número muito grande de arcônidas entrava agora na LONDON II. Ele atribuiu isso a uma coincidência.

Outro arcônida se aproximou de Gopher. Ele empurrou para o lado um blue, que gritou violentamente, mas sumiu quando ele olhou nos olhos do brutamontes carrancudo que era apenas um pouco menor do que o julziisch.

Gopher também teve de engolir em seco. — Onde ficam os depósitos? — quis saber o arcônida.

— Ficam sob convés Z-2, mas os robôs levam sua bagagem para lá. Você não precisa fazer isso.

— Eu vou acompanhar os robôs. Há artefatos valiosos na minha bagagem. Eles estão envolvidos em um campo defensivo. As relíquias não devem entrar em contato com o ar, caso contrário, poderia ter consequências desastrosas. Eu vou torná-lo responsável se alguma coisa acontecer — disse ele friamente.

Gopher respondeu rapidamente. — Não se preocupe, senhor. Cuidarei pessoalmente disso. Se quiser, podemos ir sem demora para o depósito, qual é seu nome?

— Prothon da Mindros.

 

***

 

Um som antigo penetrou no casco da nave e também foi transmitido através de campos acústicos para o exterior. Shorne tinha instalado uma buzina de navio, a fim de dar a ilusão de um antigo navio de luxo. Pelo sinal, eram 11h30min pelo horário da Terra, todos os passageiros foram informados que a LONDON estava pronta para decolar. Exatamente 30 minutos depois, às 12h00min em ponto, a nave decolaria e partiria para a viagem a London’s Grave. As passarelas arcaicas de energia de forma foram retraídas e os últimos passageiros correram apressadamente para a nave antes das escotilhas serem fechadas.

No espaçoporto Point Surft estavam milhares de seres, cujos amigos e familiares estavam a bordo. Mas havia também diversos curiosos e repórteres entre a aglomeração no espaçoporto. As diferentes raças assistiram a LONDON II começar a decolagem. Os propulsores antigravitacionais ergueram lentamente a imponente nave para a estratosfera, onde se poderia usar com segurança os propulsores normais.

Roy Cheidar, que todos os jornalistas aporrinharam na ponte de comando, conduziu suavemente a LONDON II para a órbita da Terra.

Na ponte também estavam Michael Shorne, Thomas Zchmitt, Rosan Nordment, Gol Shanning e uma dúzia de repórteres.

— Espero que isso proporcione boas tomadas de câmera — disse o capitão sarcasticamente e observou Michael Shorne, que naturalmente também sorriu diante dos repórteres.

Alguns space-jets e microcorvetas voavam ao redor da LONDON, eles pareciam microscopicamente pequenos em comparação com os 1.600 metros de comprimento da nave. Um couraçado da classe NOVA também acabava de decolar para uma missão nas profundezas da Galáxia. Mesmo o orgulho da frota da LTL tinha, comparada com a nave espacial de luxo, apenas metade do tamanho.

Huck Nagako pediu a palavra quando eles tinham de deixar a órbita.

— Capitão, temos caminho livre e podemos ativar os propulsores metagrav.

Cheidar olhou pela janela para a imensidão infinita do céu cheio de estrelas. Ele pensou no comandante da antiga LONDON, James Holling. Será que ele sentira algo semelhante quando a LONDON partira há quase cinco anos? Talvez tenha sido seu mais belo dia, mas ele não tinha podido imaginar que a decolagem da LONDON selaria seu destino. Cheidar sentiu seu coração pesar. Ele esperava que nenhuma maldição pairasse sobre a nave. O destino, ele não tinha ilusões sobre isso, não era muito desejável. Esta viagem de cruzeiro teria por fim uma espoliação dos mortos preparada pela mídia.

 

***

 

Rosan Nordment ficou em silêncio no centro de comando e estava em uma época diferente. Ela estava em outubro do ano 1285 NCG, na decolagem da LONDON. Mas seus pensamentos divagaram rapidamente para outro dia. Ou seja, a noite de 9 para 10 de dezembro do ano 1285 NCG, o dia em que a LONDON foi atingida pela nave capitânia de Rodrom WORDON e caiu no planeta aquático, que mais tarde seria conhecido com o nome de London’s Grave.

Ela não conseguia mais esquecer as terríveis imagens daquela noite. De todos os muitos mortos.

Lágrimas fluíram pelo rosto de Rosan. Ela tentou as reter, mas não teve êxito. Gol não percebeu a tristeza de sua companheira. Rosan se retirou da central de comando e correu para sua cabine. Só nesse momento é que Gol sentiu a falta de Rosan.

— Querida, onde você está? Vamos agora para a velocidade ultraluz — ele gritou.

Michael Shorne e os jornalistas olharam intrigados para ele. Shanning deu de ombros.

— Mulheres!

Shorne riu alto.

— Elas sempre perdem o momento mais importante. Sr. Cheidar, eu lhe dou a ordem para voar para London’s Grave.

— Sim — este respondeu de forma concisa, e mandou ativar os projetores Grigoroff. A LONDON II acelerou até que finalmente mergulhou no hiperespaço e deixou o Sistema Solar.

 

***

 

Os passageiros foram agora procurar as cabines para guardar suas coisas. O halutense Traros Polat tinha deixado para trás um momento tenso, anos de trabalho duro e viagens de pesquisa sem pausa. Ele buscou em Andrômeda por vestígios dos hathors e shuwashos, que povoaram a ilha sideral muito antes dos tefrodenses ou maahks. O objetivo do antropólogo halutense tinha sido encontrar evidências em antigos planetas de Andrômeda, com os quais ele queria provar que os shuwashos se originavam dos hathors. Mas sua missão fora um completo fracasso, ele não conseguiu encontrar nenhuma evidência de uma ancestralidade dos shuwashos. Pelo contrário, suas descobertas levaram apenas a interpretação de que ambos os povos humanoides, que provavelmente eram geneticamente compatíveis com os lemúridas, cappins, varganos ou wyngers, emigraram de fora para Andrômeda. Ele também tinha encontrado evidências de que esporadicamente ocorrera miscigenação entre hathors e shuwashos, antes dos hathors perecerem como povo e os shuwashos sobreviventes desaparecerem pelo túnel dimensional instalado por eles para um destino desconhecido. Traros Polat estava, tanto quanto era possível para um halutense, frustrado. Ele esperava encontrar respostas em Andrômeda que provaria sua tese de que todos os povos humanoides da Via Láctea e Andrômeda procedessem dos hathors. Mas o resultado de sua pesquisa levara apenas a uma conclusão, a de que as raças humanoides disseminadas por muitas galáxias deviam ser muitos mais antigas do que os hathors. Uma raça original comum estaria localizada muitíssimo fundo no passado. E assim se esvaíra para ele todas as chances de resolver este quebra-cabeça.

Por isso, ele tinha comprado um bilhete para a LONDON e decidido descansar e se recuperar a bordo nas próximas seis semanas. Durante o check-in, ele tinha recebido a cabine especial G-40.

— Bom dia — ele ouviu alguém dizer atrás dele.

— Sou Ottilie Braunhauer e este é meu marido, Karl-Adolf. Depois de muito tempo, essa é a primeira viagem de cruzeiro. Já não frequentamos tanto um desses... Bem, como é que se chama? Engenhoca... voador das estrelas ou voar desse jeito.

— Você quer dizer uma espaçonave?

— Sim, exatamente! Uma espaçonave. Só não me vinha a palavra, você sabe. Nós também precisamos das nossas férias. Meu marido alugou apartamentos em Atlan Village. Aquilo é muito estressante.

— Eu entendo — disse o halutense em voz baixa. — No entanto, eu não entendo o que isso tem a ver comigo. Eu estou cansado e esgotado — acrescentou ele com uma ligeira recriminação na voz.

— Bem, aí você não está sozinho. Os meus tempos de protrombina13 estão tão alto de novo! Também tenho dores na perna. Ela está gorda e inchada. Você quer ver?

Antes que Traros Polat pudesse recusar, Ottilie Braunauer já tinha puxado para cima as calças um pouco, expondo sua perna inchada coberta de varizes.

Ela contou detalhadamente a ele seu sofrimento.

Após cerca de vinte minutos Karl-Adolf Braunhauer chamou sua esposa. Ela se despediu do halutense. Para seu espanto, ele constatou que eles estavam na suíte G-33, não muito longe da sua.

 

***

 

Rosan tinha voltado a se acalmar um pouco. Ela tinha acabado de se maquiar e estava sentada na cama. Gol Shanning chegou apressado e zangado à cabine.

— Como você pôde dar um fora daqueles, Rosan? Você me fez passar vergonha!

Rosan ergueu um olhar triste para ele. — Isso é tudo no que você está interessado? Você não pensa em mim? Como me sinto por estar de volta a bordo da LONDON? Esta nave é uma cópia exata da primeira LONDON. A roupa de cama até tem o mesmo padrão! As próximas semanas serão um pesadelo para mim. Vou sempre lembrar do horror daquela época.

Gol cruzou os braços nos quadris.

— Eu a entendo, mas você tem que passar por isso. Ou você quer minha ruína? Então, nós dois podemos ir bater o ponto!

Rosan se levantou e saiu apressada da cabine para o corredor. Ali ela trombou com um homem mais velho e gorducho.

— Opa, jovem dama. É bastante incomum que mulheres tão bonitas se joguem para mim deste modo — brincou ele.

Rosan sorriu.

— Sinto muito. Eu estava desligada. Eu sou Rosan Orbanashol-Nordment.

O terrano robusto de cabelos brancos lhe estendeu a mão.

— Meu nome é Franc Kowsky. Eu sou um escritor. Você já ouviu falar da série Comandante Perkins14?

Rosan balançou a cabeça. — Sinto muito, infelizmente não. Mas eu vivi por muitos anos em Árcon.

Kowsky riu.

— Os burgueses não têm nem um guia de etiqueta.

— Quem?

— Não importa. Comandante Perkins é sobre os primeiros dias da viagem espacial. Ocorre num passado fictício, sem Perry Rhodan — disse Franc Kowsky.

— Isso parece interessante. Talvez eu possa até mesmo pegar emprestado um livro de você?

— Sem problema. Aliás, estou na cabine A-10. Assim, somos vizinhos. Mas agora tenho que ir. Isto é meio umas férias do trabalho. Eu preciso escrever os roteiros para uma nova série de Gucky. Desde que os camelotianos voltaram a ser populares, alguns cineastas acham que se podia ter sucesso com Gucky.

O humor de Rosan melhorou visivelmente.

— Gucky é alguém muito especial. Ele salvou minha vida duas vezes. Desejo que você se divirta escrevendo. Com certeza ainda vamos nos ver.

Os dois se despediram e Rosan percorreu o amplo corredor do convés A. Servos tópsidas traziam a bagagem de Trg’arg Gyl para a cabine A-3. O tópsida andava empertigado e arrogante pelo corredor e queria mostrar a todos o status que tinha.

— Bom dia — disse Rosan amigavelmente.

— Saudações! — Ele disse a ela antes de gritar com alguns servos que não largaram uma peça de bagagem corretamente.

— Rosan, que surpresa — a Orbanashol ouviu uma voz familiar atrás de si. Quando se virou, teve uma grande surpresa.

— Attakus!

— Vejo que você está tão surpresa quanto eu — disse Attakus cheio de ironia.

— Dizendo melhor, como eu fiquei quando ouvi que você se dispôs a profanar o túmulo da nossa família.

Rosan se sentiu atacada e irritada. Ela teria esperado mais Wyll a bordo da LONDON II do que seu primo Attakus.

Attakus até tinha razão em suas acusações. Em circunstâncias normais, Rosan nunca teria vindo para bordo, mas ela não tinha escolha. Explicar isto a Attakus, no entanto, era uma tarefa impossível.

— Deixem-me em paz — ela gritou para ele em vez disso e quis voltar para sua cabine.

— A putinha não é nem consciente da culpa dela. Como previmos — disse uma segunda voz. Rosan reconheceu o amigo de infância de Attakus imediatamente. Para ela, Hajun Jenmuhs tinha ficado ainda mais gordo e feio.

Ela balançou a cabeça e correu de volta para sua cabine. Orbanashol e Jenmuhs se divertiram no corredor e se felicitaram pelo “heroísmo” deles.

 

Capítulo 11

Rixas antigas

 

A LONDON já voava por cerca de oito horas tranquila e sem complicações pelo hiperespaço. Ela tinha chegado na periferia da Via Láctea e estava prestes a deixar a galáxia nativa.

A gerente de cruzeiro Suzahn Roemee informou os passageiros através do sistema de comunicação de bordo que o jantar estava para ser servido.

Como se os seres fossem vítimas de uma epidemia de fome, eles lotaram os restaurantes e se lançaram sobre os bufês.

No convés A tudo isso aconteceu um pouco mais civilizado, porque os empresários e elites davam mais valor a postura e a consagrada etiqueta do que os passageiros “comuns”.

Na mesa do capitão se reuniam cerca de uma dúzia de pessoas. Nas duas cabeceiras estavam sentados Michael Shorne e Roy Cheidar. À esquerda de Shorne foram colocados Rosan Nordment, Gol Shanning, Thomas Zchmitt, Franc Kowsky e Trg’arg Gli. À direita de Shorne estavam Attakus Orbanashol, Hajun Jenmuhs, Sven Fochtmann e a arcônida Thalia da Zoltral. A jovem arcônida provinha da baixa nobreza e pertencia a um ramo dos Zoltral. Thalia ocupava o posto de orbton na Frota de Cristal e comandava um caça espacial. Ela ganhara a reputação de interpretar as ordens quando necessário de forma ampla para atingir seus objetivos de operação. Por este motivo ela também era bem impopular entre os oficiais. Por sua audácia ela já tinha muitas vezes violado as regras. Outro hobby era a história da Terra. Seu sonho tinha sido se tornar uma arqueóloga.

Attakus e Hajun não estavam muito entusiasmados com a presença de um da Zoltral. Afinal, a família foi tida como amigável aos bárbaros desde a ligação entre Rhodan e Thora. No entanto, Michael Shorne estava interessado na bela arcônida e a convidara por isso.

O último lugar era mantido livre. Ninguém sabia para quem, exceto Shorne e Zchmitt. Um jovem terrano se aproximou, primeiro apressadamente, então, mais devagar e com circunspecção da mesa. Attakus engasgou com a comida quando viu o homem.

Mas ele saudou primeiro Rosan Orbanashol com um afetuoso “Olá”.

— Wyll! — exclamou alto Rosan.

— Nordment — rosnaram Shanning e Attakus quase simultaneamente.

Michael Shorne riu interiormente. Ele sabia que Nordment estava a bordo da LONDON e arranjara este encontro sem que nenhum dos protagonistas soubesse. Shorne deu as boas-vindas ao camelotiano e lhe ofereceu o lugar. Wyll se sentou e olhou envergonhado para Rosan.

Lentamente, os dois arcônidas se recompuseram. Hajun Jenmuhs cochichou no ouvido de Attakus um comentário sarcástico. Gol Shanning mediu Nordment com um olhar venenoso.

Depois que os pratos foram servidos, gradualmente se estabeleceu uma conversa animada entre os convidados do jantar do capitão. Thomas Zchmitt e Sven Fochtmann conversaram animadamente sobre planadores de corridas arcônidas. Fochtmann era o proprietário de uma grande fábrica de planadores de corrida, que produzia a marca muito bem-sucedida Da Noh.

Mas não só planadores de corrida, mas também iates espaciais eram ali produzidos. O tópsida Trg’arg Gyl tentava uma conversa com os dois arcônidas, mas eles estavam pouco impressionados com ele.

Internamente isso deixou o tópsida irado. Fazia anos que ele se esforçava para ter um contato mais próximo com a aristocracia arcônida, mas em vão até agora. Seu temperamento era talvez também responsável por isso. Ele era muito irascível e impertinente quando não conseguia o que queria.

Ficou bastante inconveniente a Wyll conversar com Rosan. Em vez disso, ele apenas a observou, o que ela naturalmente notou.

Ela retribuiu a maioria dos olhares apenas brevemente, então olhava para Gol Shanning ou para seu prato.

Franc Kowsky parecia estar muito divertido com este acontecimento. Ele tirou um computador portátil do bolso e digitou dados. Talvez a viagem da LONDON lhe parecia digna o suficiente para escrever uma história dela.

— Ele conseguiu sair do asilo Camelot? — perguntou Jenmuhs finalmente de forma provocativa.

Wyll o olhou com desdém, tomou um breve alento e refletiu sobre uma resposta.

— Bem, pelo menos nem todos conseguem sair de Camelot, como é no caso do sanatório Árcon.

— Seu camponês impertinente! — retorquiu Attakus furioso.

Hajun Jenmuhs também não demorou muito para fazer um comentário.

— Deixe estar! A viagem é longa, muito longa. Talvez o destino não será tão magnânimo para ele uma segunda vez, como foi em London’s Grave — bufou o gordo.

Roy Cheidar não aguentou mais escutar o vozerio. Ele pediu desculpas a seus convidados com a desculpa de que era necessário com urgência na ponte.

Ele saiu com passos apressados da sala de jantar. Ele fez bem, porque o clima estava ficando cada vez mais irritante.

— Michael, você sabia da presença deste criminoso? — alfinetou Gol Shanning, aborrecido. O proprietário de jornal estava visivelmente surpreso com o surgimento do ex-marido de Rosan. Shorne riu alto e assentiu.

— Claro que eu sabia, desde que ele se registrou na lista de passageiros.

— Bem que poderia ter imaginado que a ralé se juntaria — disse Shanning.

Enquanto Michael Shorne ignorava o comentário sarcástico de um rival de negócios com a rotina habitual, Wyll Nordment se inquietava mais sobre a declaração de seu rival pessoal.

— Eu devo ter um problema de ouvido! — resmungou ele entre os dentes.

Rosan lhe lançou um olhar penetrante. Wyll rapidamente entendeu. Ele não impressionava Rosan ao atacar o amante dela. Nordment resolveu se acalmar. Ele ignorou dali em diante Gol Shanning e os dois arcônidas, o que, no entanto, era algo difícil para o jovem terrano.

No entanto, ele habilmente desviou de si mesmo fazendo algumas perguntas sobre a nova LONDON, que Thomas Zchmitt respondeu em detalhe e de forma documentada.

O halutense Traros Polat tinha se sentado em outra mesa. Ele se sentara em uma cadeira especial de energia de forma. Cheidar tinha selecionado os passageiros da segunda classe que de vez em quando poderiam ter a honra de fazer as refeições na principal sala de jantar da primeira classe. Para seu grande horror, dois terranos se juntaram a sua mesa. Era o casal Braunhauer.

— Ah, bom dia sr. Tolot — o cumprimentou Ottilie Braunhauer em um tom desgracioso. — Polat, não Tolot — esclareceu ele, calmo.

— Bem, é assim comigo também. Você sabe, nós não nos lembramos de todos os nomes. É muito difícil com tantos convidados.

“Muito diplomático”, pensou o halutense.

Ela olhou para o marido.

— Sente-se, Vatichen.

O velho parecia não estar totalmente convencido, onde ele deveria se sentar. Começou uma discussão sobre a questão se ele devia se sentar do lado direito ou esquerdo de sua esposa. Traros Polat a viu ficar nervosa mas, admiravelmente contida. Depois de um pouco mais de três minutos, Karl-Adolf Braunhauer tinha decidido tomar o lugar à direita de sua esposa.

Uma garçonete, originada do povo dos saltadores, perguntou aos presentes o que desejavam.

— Vatichen, o que vou pegar?

— Eu não sei, Ottilie. Pegue o que você quiser.

— Vou pegar o salmão.

— Bom.

— Ah não, o médico disse que eu não devo comer peixe. Então vou pegar a truta.

Houve um breve silêncio. Polat se perguntou quanto tempo seria necessário para Ottilie Braunhauer perceber que truta também era um peixe.

— Oh, isso é peixe também! Então vou pegar o joelho de porco ou a caçarola gatasense? Ou a coisa... escalope à la Plofos.

Ouviu-se um rosnar alto vindo de Polat. — Pegue tudo! O que você não quiser, eu como!

“Ou vou enfiar pela sua garganta”, ele acrescentou mentalmente.

 

***

 

Rosan tentou ganhar alguma distância das solenidades e foi para o convés. Ela andou até o parapeito e apoiou os braços sobre ele. Rosan olhou para estrelas que refulgiam intensamente. A LONDON tinha feito uma parada, provavelmente para manutenção que não poderia ser feita no hiperespaço.

— Posso me juntar a você? — ela ouviu uma voz masculina vinda de trás.

Ela se virou e viu Wyll Nordment diante dela. Era a primeira vez desde que estavam a bordo que ficavam sozinhos. Wyll olhou sua ex-mulher profundamente em seus olhos. Ele sempre fora fascinado pelos olhos dela. Eles irradiavam um fogo vermelho que já tinha impressionado tanto em outubro do ano 1285 NCG, quando ele encontrou Rosan pela primeira vez.

— Não — ela disse.

Wyll ficou irritado.

— O quê?

— Não, eu não tenho nada contra que você queira se juntar a mim — respondeu a Orbanashol um pouco espantada.

Wyll ficou mergulhado em pensamentos e com isso tinha perdido o fio da conversa. Mas agora ele sabia novamente. Ele assentiu e se colocou de Rosan no parapeito.

— Como você está, Rosan? — perguntou Wyll amigavelmente.

— Bem, obrigada — disse ela secamente.

Wyll Nordment teve dificuldades em estabelecer um diálogo, já que Rosan aparentemente não procurava um. Ambos ficaram um tempo de silêncio.

— Como você está? — perguntou Rosan depois de um tempo.

— Poderia ser melhor. O serviço em Camelot naturalmente ainda me diverte, mas falta alguma coisa importante na minha vida.

O terrano esperou para ver o que vinha à intuição de Rosan, sobre o que ele, ou melhor, a quem ele se referia. — Portanto você não tem uma nova parceira? — ela quis saber.

Esta pergunta surpreendeu Wyll.

— Não, não. Eu não tenho nenhuma mulher que possa substituí-la.

Rosan olhou perplexa para ele. Ela não tinha certeza o que devia pensar das palavras de Wyll. Revê-lo a bordo da LONDON acabou sendo uma grande surpresa para ela. Eles tinham de se reencontrar justamente na réplica da espaçonave hanseática que fora a pique há cerca de quatro anos e meio. Muitas lembranças haviam despertado nela. Wyll tinha lhe mostrado como viver bem. Ele tinha lhe ensinado a sentir alegria em viver. Por um momento ela se viu tentada a confessar o amor que ainda sentia por ele, mas então pensou em Gol Shanning. Teria sido injusto com ele.

Ela desviou o olhar de novo e olhou para as estrelas. — As estrelas são lindas — disse ela.

— Não quase tão lindas quanto você, Rosan.

Rosan teve de sorrir. Ela passou a mão pelo cabelo ruivo encaracolado. Mas ela voltou rapidamente a ficar séria.

— Por que você veio no voo? — ela quis saber.

— Eu queria vê-la novamente — Wyll lhe respondeu com sinceridade.

— Por quê? Faz um ano que você não entra em contato comigo. Por que agora?

Wyll ficou um pouco irritado.

— Você não em entrou contato comigo. Eu nem sequer sabia onde você morava na Terra — ele tentou se justificar.

Rosan riu alto. — Você já ouviu falar de bases de dados de endereços? Com certeza vocês têm acesso a isso em Camelot!

— Sim, nós temos. Mas mesmo se eu soubesse onde você morava, de que adiantaria? Você deixou bem claro para mim que você não queria saber mais nada de mim!

Rosan cruzou os braços na cintura. — O mesmo se pode dizer de você. O que estou fazendo gastando tempo com um cara tolo? Eu vivo com Gol Shanning. Isso você não pode mudar. Famal Gosner, Wyll!

Rosan deixou zangada o convés. Divertindo-se, Michael Shorne tinha observado o incidente, bem como uma série de outros passageiros. Isso era exatamente o que Shorne tinha esperado.

Wyll ficou sozinho no parapeito olhando para Rosan indo. Ele não tinha imaginado a conversa desse jeito. Na verdade, ele queria dizer a ela que ele ainda a amava e não podia viver sem ela, mas ele tinha deixado o assunto desandar mais uma vez.

 

Capítulo 12

Por causa do amor

10 de junho do ano 1290 NCG

00h34m do tempo padrão galáctico, Camelot

 

No antigo mundo dos livres-mercadores Fênix se iniciava lentamente a vida noturna. Os jovens se divertiam nos holopalácios ou centros de jogo. Mas também no edifício do governo ainda prevalecia a agitação intensa. Atlan estava na RICO, que fazia um voo de teste através do sistema. Era necessário experimentar alguns novos componentes instalados por Attaca Meganon15. Ele estava em um convés holográfico, que dava a impressão de se olhar diretamente para o espaço através da fuselagem transparente da RICO. Através da ilusão era proporcionada uma vista panorâmica em todas as direções. A sintrônica projetava o espaço sideral circundante sobre a superfície do octaedro holográfico, podendo ampliar quando necessário qualquer uma das diferentes áreas, a medida que dados estivessem disponíveis.

O arcônida estava usando um traje de lazer de calças pretas, uma camisa preta e uma jaqueta branca.

Ele estava com as mãos nos bolsos e olhava para o espaço. A RICO acabava de passar pela lua Ceres. “Perdido em pensamentos outra vez?”, perguntou o sentido extra de Atlan.

“Você gosta muito mais disso”, opinou Atlan.

“No que está pensando, em um dos seus amores trágicos ou excepcionalmente em algo construtivo?”

“Seu tato é comovente. Mas estou pensando no incidente em Ferryd Mir. Ele não sai mais da minha cabeça. Espero a cada hora novas mensagens dos meus agentes da IPRASA”, ele disse a seu alter ego.

Atlan não queria esperar mais. Ele foi a um intercomunicador instalado na parede, e estabeleceu uma ligação de rádio codificado para uma nave da IPRASA, que estava nas profundezas do espaço intergaláctico fora de Tantur-Lok e usou a estação retransmissora que fazia a troca de mensagens entre a IPRASA e Camelot. Havia estacionadas várias boias de comunicação direcional entre eles que serviam para acobertar o link de rádio direcional.

No monitor apareceu um jovem oficial. Ele ficou agitado quando reconheceu o imortal. Ele informou apressadamente o comandante da espaçonave, que tratou de maneira mais relaxada com Atlan.

— O que houve, Atlan? — quis saber o saltador barbudo.

— Surgiu algo de novo em relação a Ferryd Mir? — O mehandor riu alto.

— Você tem que ser vidente ou tem Gucky por perto. Na verdade, descobrimos algo interessante — disse o comandante da nave.

“Também se chega ao pensamento lógico sem que seja preciso um mutante ou do antigo abracadabra terrano”, disse o sentido extra, zangado. Pareceu a Atlan que ele tinha ficado melindrado.

— Por favor, informe as novidades — pediu Atlan educadamente, mas com urgência, mas o saltador não perdeu a calma. Ele começou lentamente o relatório.

— O nível de sigilo é bastante elevado. No entanto, conseguimos determinar que a suspeita se aplica principalmente ao próprio pessoal. Aparentemente se suspeita que grupos da frota ou de funcionários ministeriais estão por trás.

Atlan refletiu uns instantes.

— O que pensa o nosso amigo Sargor da Progeron? — perguntou Atlan. O saltador tomou um café e bufou para si mesmo.

— Não se ouve o bom Progeron. O chefe de segurança do Império de Cristal está realmente fazendo tudo agora para ser considerado inimigo de Camelot. Parece que houve uma visita secreta em Ferryd Mir. A maioria dos soldados foi enviada para um exercício no outro extremo do planeta. Somente a tripulação de comando e alguns membros do serviço secreto da frota permaneceram no laboratório — disse ele em detalhes.

— Aparentemente todos os dados sobre este encontro secreto foram apagados da sintrônica central de Ferryd Mir. No entanto, foi encontrada pequenas notas. O diretor de pesquisa tinha enviado uma mensagem de hipercomunicador para sua amante em Zalit, onde ele falou de um encontro secreto com um oficial superior.

Atlan tinha os braços cruzados sobre a barriga.

“Parece que um oficial superior tem seus próprios planos. Você devia perguntar o que foi roubado e se são mencionaram nomes”, aconselhou o sentido extra.

“Eu não teria chegado a isso sem a sua ajuda”, replicou o arcônida, irônico.

— Foram mencionados nomes? — quis saber Atlan. Ele teve que reprimir um sorriso, quando ele pensou para o sentido extra.

— Bem, não oficialmente. No entanto, o alto mascant Prothon da Mindros está desaparecido faz algum tempo. Sua nave HOZARIUS XIV e outros dois cruzadores pesados partiram pretensamente em uma operação secreta. Mas, aparentemente, ninguém sabe nada sobre esta operação.

“Prothon da Mindros é considerado um dos almirantes mais leais e mais capazes da Frota de Cristal. Bostich o nomeou mascant por seus serviços”, esclareceu o sentido extra.

Atlan assentiu imperceptivelmente, e se despediu do saltador que não podia dar mais informações. Ainda não estava esclarecido a Atlan o que foi roubado.

“Algo pode ter sido roubado?”, especulou o sentido extra.

“Deve! Senão por que Mindros matou trinta soldados insignificantes?”

“Então já está certo que foi Mindros?”

O setor lógico de Atlan estava certo. O arcônida decidiu se mudar para a central de operações de Camelot para compilar mais informações sobre Prothon da Mindros.

 

***

 

No curso da RICO estava o grande estaleiro espacial orbital, onde duas naves espaciais estavam sendo construídas. Elas deviam, após sua conclusão, receber os nomes de IVANHOE e TAKVORIAN. A tripulação ainda não tinha sido selecionada para os dois gigantes esféricos de mil metros de diâmetro.

No entanto, pelo menos tinha o antigo comandante da FREYJA, Xavier Jeamour, as melhores cartas para o comando da IVANHOE. O belga trabalhava estreitamente com Attaca Meganon, no que dizia respeito aos detalhes de construção e pedidos especiais para a IVANHOE. Jeamour era um veterano espacial capaz e o arcônida estava feliz que ele havia se juntado a Camelot.

Atlan visitou brevemente a construção. As naves estavam quase terminadas. Ele já contava que se poderia usá-las no próximo ano. Seria ao lado da GILGAMESH, as maiores espaçonaves que estariam à disposição da organização de imortais.

Um pouco mais tarde, a RICO pousou. O arcônida olhou para seu cronógrafo. Ele rapidamente subiu em um planador que já o esperava e se dirigiu para a central de operações.

Os operadores já haviam montado pelas instruções do imortal um dossiê detalhado sobre o oficial altamente condecorado. Diante de Atlan havia uma folha de dados, enquanto a sintrônica com a voz modulada de uma jovem reproduzia acusticamente o conteúdo:

Prothon da Mindros nasceu em 1212 NCG em Árcon II, filho de uma família rica e influente. Ele frequentou as melhores escolas e se graduou no ano de 1228 no curso da escola de oficiais da frota Bark-N’or em Iprasa. Com 19 anos ele tinha completado sua formação e recebeu a honrosa distinção “Suril Famag” — O Melhor de sua Classe.

Depois passou três anos de serviço na administração militar. Mas em 1234 NCG estava monótono demais para ele e ele postulou o posto de navegador no couraçado MINTEROL. Ali ele ganhou muito respeito e prestígio. Após a luta no sistema Daakurr em 1245 NCG, onde se lutou contra colonos rebeldes, ele foi promovido a primeiro-oficial. O comandante foi gravemente ferido na luta após uma refrega. Os outros oficiais do estado-maior não foram capazes de continuar com êxito a luta. Mindros então tomou a iniciativa e conseguiu retardar o adversário através de algumas manobras ousadas até a chegada de reforços e se conseguiu esmagar a revolta. Por este desempenho ele recebeu a Medalha de Dhakat neste mesmo ano.

Ele não permaneceu oficial por muito tempo. Depois de um curso de seis meses ele recebeu o comando da LOLANDES. A LOLANDES era especificamente utilizada em áreas de crise e nas fronteiras do Império de Cristal. Nos anos seguintes Mindros resolveu situações de conflito, como levantes de colonos, rejeição dos imigrantes ilegais e controles afins.

Distinguia-se particularmente por seu tipo calmo e frio. Ele nunca perdeu a tranquilidade. Sua autoridade era incontestável. Ele não admitia discussão no que dizia respeito às suas decisões. Ele também era conhecido por sua crueldade durante as lutas. Para ele, só contava a vitória. Qualquer meio era válido para ele, mas ele também era honrado e justo. A partir do ano 1250 NCG ele foi transferido para o Serviço Secreto. Daí em diante, ele devia realizar missões de reconhecimento e espionagem na LTL e no Fórum Raglund. Também houve grande satisfação pela realização destas missões. Assim ele recebeu em 1251 NCG a “Medalha Zoltral — Primeiro Grau” por uma missão de reconhecimento primária em Plofos. Ele foi condecorado em 1255 NCG com a medalha de terceiro grau após a destruição de cinco naves da LTL, que queriam desembarcar nove agentes no sistema Árcon. No ano 1258 NCG ele conheceu Terza, de 38 anos de idade. Ele se apaixonou imediatamente por ela e se casaram em outubro de 1260 NCG. Ele foi agora consolidado como oficial de estado-maior e colocado no Serviço Secreto da Frota. Seu principal interesse é naturalmente o combate a IPRASA.

O final do ano 1267 NCG, havia no sistema de fronteira Don K’abur um grande confronto entre o IPRASA e a Frota de Cristal. Mindros tinha colocado uma armadilha perfeita para cerca de 1.000 unidades da IPRASA. Ele simulou que arcônidas coloniais locais atacariam em conjunto com a IPRASA bases da Frota de Cristal e romperiam com o Império de Cristal. A IPRASA caiu neste plano e sofreu sua maior derrota, o que levou Atlan a não mais se envolver nessas grandes operações. Foi conferido a Mindros por isso, no ano 1268 NCG, uma das mais altas medalhas de Árcon: a Estrela de Árcon. Paralelamente à condecoração ele foi nomeado almirante e comandante da IV Frota de Cristal. Mindros agora pertencia aos almirantes mais poderosos do Império de Cristal. No ano 1275 NCG ele recebeu como reconhecimento por seu trabalho “grandioso” e “heroico” em prol de Árcon o Estandarte do Imperador, que só era muito raramente concedido. Sua mulher deu à luz em 1276 NCG a um filho que foi chamado de Carba. Este foi o orgulho de Prothon. Apenas dois anos depois eles tiveram outra criança, uma filha, que chamaram de Esrana.

Prothon já tinha planejado a vida de seus dois filhos. Esrana devia entrar para a política, enquanto Carba também devia se tornar almirante. Para marcar o 25º aniversário de casamento em outubro do ano 1285 NCG Terza desejou uma viagem de cruzeiro na nova nave espacial de luxo LONDON. Prothon concordou, e queria viajar com ela e os dois filhos, mas no último minuto teve que cancelar porque havia problemas com a IPRASA. Assim Terza, Carba e Esrana viajaram e Mindros ficou sozinho, e morreram em 9 de dezembro do ano 1285 NCG no naufrágio da LONDON. Isto foi um golpe duro para Prothon da Mindros. Ele praticamente morreu com eles. A partir de então ele já não foi ele mesmo. Seus sentimentos e sua energia se extinguiram. Ele se retirou da carreira ativa e foi para a área de estado-maior.

Atlan matutou por algum tempo sobre os dados recém-adquiridos. Ele cobriu o rosto com as mãos e suspirou alto.

“Deve ser pela morte da família”, opinou o setor lógico.

“Justamente a LONDON. Mas por que só agora? Por que só após quatro anos e meio? O que exatamente Mindros almeja com o ataque?”

“Perguntas e mais perguntas, as respostas certamente não demorarão muito a chegar.”

— Mas eu não quero esperar até que seja tarde demais! — Atlan ralhou alto.

Naquele momento chegou a Atlan uma mensagem de hipercomunicação atrasada. Ela vinha de Wyll Nordment e tinha sido escrita há quatro dias.

Curioso, Atlan abriu a mensagem. O que leu não o agradou muito. Wyll se despedia de Camelot e dizia que precisava de distância por um tempo para fazer algo importante.

O que exatamente era, o Imortal já imaginava. Ele foi para a homepage da Corporação das Industrias Shorne, onde também havia uma lista de passageiros da LONDON II. Ele procurou na lista e também encontrou Wyll Nordment.

“Surpreso?”, perguntou o sentido extra de Atlan.

“Não, eu tinha esperado isso”, ele respondeu calmamente.

Ele vasculhou ainda mais a lista de passageiros e se espantou quantos dignitários, políticos, artistas e industriais estavam a bordo da LONDON II. Algumas pessoas muito importantes da LTL, do Império de Cristal e do Fórum Raglund.

“Sorte que Perry está agindo em algum lugar da vastidão do espaço e o somerense Sam está a caminho de uma missão diplomática em Saggittor. Então, pelo menos, não devem ficar outra vez com uma sequela.”

“Muito engraçado, sentido extra.”

Então Atlan deu com outro nome. O semblante de Atlan congelou ao ler repetidamente as letras. Prothon da Mindros!

“Agora eu fiquei surpreso”, constatou ele sarcasticamente.

“Agora sabemos por quê.”

“Como?”

“Agora sabemos por quê Mindros planejou esse ataque. Pense, terrano-presa! Sua família morreu na LONDON I. A LONDON II é uma cópia da nave e vai praticamente profanar ao vasculhar a velha LONDON. O túmulo da sua família. Além disso, é uma nave terrana. Só resta a pergunta de como ele vai fazer isso.”

Atlan agora entendeu bem. Mindros queria se vingar. Aparentemente, ele tinha tramado alguma coisa com a LONDON II. O que tinha sido desenvolvido em Ferryd Mir, tinha a ver com isso. Provavelmente servia para destruir a LONDON.

Atlan reagiu imediatamente.

Ninguém sabia da intenção de Mindros. O arcônida não tinha provas concretas, apenas uma suposição, mas ele tinha que confiar nesse instinto.

Atlan soou o alarme imediatamente na RICO. Gerine devia preparar para decolar o módulo da GILGAMESH. O arcônida tinha de planejar uma missão de resgate de grande magnitude.

 

Capítulo 13

Pelo poder e glória de Árcon

 

Ainda que dia e noite no espaço sideral não existissem, era seguido o tempo padrão e o relógio interno dos seres que provocava um tipo de horário de dormir. Este tinha chegado a cerca de uma hora do tempo padrão terrano.

A maioria dos 17.500 passageiros descansava pacificamente em suas cabines. Mas um grande número também vagava pelos bares ou salões de festa.

Huck Nagako e Udo Arenz, o engenheiro-chefe, faziam uma ronda e supervisionavam diversos instrumentos e aparelhos. Udo Arenz nascera na Alemanha e era um engenheiro muito capaz. No entanto, ele também era excêntrico e muitas vezes difícil de se estimar. Na maioria das vezes amigável, mas também tendia a acessos de raiva, que eram particularmente sentidos por seus funcionários na casa de máquinas.

Ambos se encontraram com o oficial de segurança Iron Styrm. O pesado epsalense também fazia uma patrulha por alguns setores da nave gigante. Ele decidiu ir pelo convés Z-2 para policiar dali os depósitos dos níveis inferiores, sem imaginar o que o esperava ali.

 

***

 

— Rosan, Wyll! Vocês dois só devem se separar quando a LONDON estiver na água — disse ele rapidamente. — Então, tentem chegar o mais rápido possível de volta ao topo antes de a sucção puxarem vocês. Pouco antes de a água atingir o parapeito, respirar!

Então um choque passou pela LONDON. Um berro. O fim vinha agora. A LONDON começou a afundar de novo. Lenta mas inexoravelmente a água chegava metro a metro mais perto.

— Oh Deus, oh Deus. Eu ainda não quero morrer! — gritou Rosan.

Wyll pegou a mão dela. — Você ouviu o que disse Perry. Respirar quando eu disser.

Ambos estavam tremendo de medo. Rhodan olhou para a água. Ainda estava a 200 metros, 100 metros, 50 metros, 25 metros. As pessoas foram arrastadas e desapareceram nas águas escuras.

Então, a água atingiu o parapeito.

— Respirar! — ordenou Rhodan.

Os três prenderam a respiração quase simultaneamente. O parapeito também foi coberto. Os propulsores eram a última coisa que ainda via o céu, então, isso também desapareceu na água junto com o sugador hipertrop e a bandeira da Liga Hanseática Cósmica.

A LONDON foi a pique e arrastou mais de dez mil seres para a morte.

Rosan tentou convulsivamente alcançar a superfície da água. Ela perdeu a mão de Wyll e tentou novamente fazer contato com ele, mas não conseguiu...

Então ela acordou sobressaltada. Suando e tremendo ela olhou ao redor e constatou que tudo estava quieto. Ela estava em sua cama. Gol Shanning dormia profundamente e não tinha notado nada do pesadelo de Rosan. Ela respirou fundo e voltou a deitar de lado. A carga sobre ela havia se tornado muito forte.

Ela não podia lidar com as lembranças do horror de quatro anos e meio atrás. Como na época ela estava sozinha novamente. Rosan chorou até dormir.

 

***

 

— Arbtans16, orbtons – camaradas em um momento difícil. Estamos todos conscientes que nos encontramos sozinhos nesta missão e vamos agir sem o consentimento do grande Imperador.

“Mas nós fazemos a coisa certa. Os povos degenerados da Via Láctea merecem uma lição que nunca esquecerão.

Nós, meus camaradas, agora estamos prontos para dar isso a eles!”

O discurso de Prothon da Mindros foi seguido pelos 75 homens e mulheres do comando de ação com grande entusiasmo. A unidade de elite, que tinha sido treinada por ele por muitos anos, começou com as ações previstas.

Primeiro manipularam as câmeras de vigilância nas diferentes seções que seriam afetadas por suas ações. A seguir buscaram os SERUNs e outros equipamentos no depósito onde os capangas do Cavaleiro Prateado tinham guardado.

Mindros registrou satisfeito que a Mordred tinha mantido sua palavra. As “relíquias” foram levadas sempre em estado de estase, para diferentes áreas da nave e providas com um comutador pelos quais podiam ser desativados os campos de estase. As rochas só entravam em estado gasoso mortal quando uma nave fechava o hipercampo circundante durante a transição no voo ultraluz e produzia o vórtice metagrav, uma singularidade artificial. Ocorria uma hiper-radiação de alta frequência que normalmente era inofensiva, mas fazia as rochas entrarem em estado gasoso. Logo que o hipercampo do propulsor metagrav era reaberto e a nave espacial entrava no espaço einsteiniano, as rochas se solidificavam e ficavam completamente inofensivas. A única maneira de evitar este efeito, encontrada pelos cientistas de Ferryd Mir, era armazenar as rochas dentro de um campo de estase.

Ele agora poderia com um toque de um botão desligar todos os campos de estase e fazer das rochas um gás venenoso e letal, assim que a LONDON retornasse ao voo ultraluz. — Orbton Hermon, orbton Zeronat. Como estamos?

Os dois oficiais fizeram uma saudação. — Mascant, temos metade dos objetos acondicionados e conectados de maneira segura! — relatou Hermon. Zeronat assentiu concordando.

— Muito bem, meus senhores! Eu quero ver a operação acabada até 02h00min. Então, ao trabalho!

— Sim, mascant!

Com um zelo fanático os soldados cumpriram suas tarefas. A maioria não servia para acondicionar as rochas e integrar o transmissor, mas para manter a guarda. Cerca de doze dos 75 arcônidas eram técnicos, o restante de unidades especais treinadas, que em uma emergência disparavam primeiro e depois então surgiam perguntas.

Mindros cruzou os braços atrás das costas e controlou a operação. Ele olhou em volta pela LONDON, evitando, no entanto, pensar em sua família. Ele tinha agora que ter total controle de seus sentimentos, como qualquer bom soldado! Ele era responsável por seu pessoal e a operação.

Mindros estava determinado a continuar com isso até o fim. Ele sabia que provavelmente não havia nada depois para ele e seus homens, mas para ele isso era um preço aceitável. Por um lado, ele impedia a profanação do túmulo de sua família e por outro ele podia, se ele agisse habilmente, causar uma guerra galáctica. Neste caso, sua própria morte e o sacrifício de sua unidade de elite seriam um preço aceitável.

Sobre o destino dos cerca de 20.000 seres a bordo da LONDON ele pouco se importava. Lamentou que também arcônidas tinham que morrer, mas não sentia nenhuma pena de todos os outros seres. Ninguém os forçara a tomar parte por puro sensacionalismo da profanação do lugar de descanso de sua família, por isso eles também eram responsáveis pelas consequências por sua própria torpeza.

O único problema para ele foram as crianças, noite após noite ele tinha lutado consigo próprio, mas ele também tinha perdidos seus filhos pela arrogância e altivez dos terranos, por que ele deveria desistir da punição dos violadores de tumba por causa dos filhos daqueles que queriam profanar o último descanso de sua família?

— Mascant, aqui é Hermon. Estamos prontos — ele ouviu o orbton informar. O segundo oficial relatou a mesma coisa dois minutos depois.

— A primeira fase da operação está agora completada! Reunir, tirar e esconder os SERUNs. Depois os homens têm até amanhã de manhã antes das 07h00min de tempo livre! — ordenou Mindros. A permissão de saída foi recebida pelos homens com alegria. Mas um dos soldados deu o alarme. Alguém se aproximava do depósito!

 

***

 

Iron Styrm andava sem desconfiar de nada pelo corredor e realmente supervisionava todos os depósitos. Contudo, a porta do depósito ZA-45 estava bloqueada. Mas ele voltou a abrir usando um cartão inteligente. A luz estava apagada, assim ele ativou a iluminação. Ele caminhou alguns metros pela sala. ZA-45 era um depósito com uma localização central, que também dava acesso a outros depósitos e era o núcleo dos climatizadores. Vários poços de ventilação saíam desta sala para toda a nave. O epsalense olhou em volta e acendeu um cigarro. Ele deu um longo trago, então ouviu um barulho atrás dele.

Ele se virou e olhou mal-humorado pela sala. Em seguida, ele se voltou de novo para a porta, quando de repente um arcônida musculoso apareceu por trás do adaptado ao ambiente e o pegou em um estrangulamento. O epsalense ficou tão surpreso que ele não reagiu nos primeiros segundos, pois já via se projetar o brilho de uma lâmina em seu pescoço. — O plano do mascant “Vap, agora você estaria morto” — disse o arcônida e aliviou o aperto.

Styrm tossiu e bufou agitado enquanto tocava sua garganta. Então, ele empurrou o arcônida contra uma parede.

— Não faça essa merda comigo outra vez, entendeu? — ele gritou furioso.

— Fiquem quietos! Pode passar passageiros por aqui — advertiu aos dois o orbton Hermon.

O soldado ficou calmo imediatamente, enquanto Styrm massageava sua garganta mais uma vez e continuou a tossir. Ele puxou a saliva com um ruído e a cuspiu.

— Vocês jovens têm que ter mais cuidado — ele falou sério para os arcônidas.

— Nós sabemos como proceder — explicou Mindros da Prothon frio. O arcônida alto estava usando um traje de couro marrom e deu um sorriso frio diabólico. Seu rosto estava atravessado por sulcos profundos, seus olhos pareciam estar iluminados por um fogo diabólico. Ele exalava frieza, determinação, mas também tristeza e encarou o epsalense, quase quarenta centímetros menor, irritado.

— Não é seu trabalho dar conselhos a mim ou a meus soldados. Seu trabalho era assegurar que ninguém descobrisse nosso equipamento, o que também você conseguiu. Seu outro trabalho consiste em nos permitir espaço livre suficiente para nossa operação. Nada mais, nada menos.

Styrm sentiu o caráter definitivo nas palavras de Mindros. Este homem não admitia discussão. Por isso, o epsalense achou melhor não fazer mais comentários sobre a estratégia dos arcônidas.

— Tanto faz para mim. O principal é que eu receba minha recompensa.

Mindros fitou com desprezo o homem. Ele não gostava da corja corrupta que era disseminada pelos terranos. Em contraste com estes sujeitos depravados, ele sempre agiu por convicção interior. Avidez por dinheiro ou vantagens pessoais sempre foram profundamente odiados por ele. No entanto, ele tinha sido obrigado a trabalhar com algumas destas criaturas para alcançar seu grande objetivo.

— A Mordred vai lhe pagar como combinado, epsalense. Esteja certo disso.

Styrm olhou com curiosidade em torno da sala. Pelo visto, ele queria descobrir o que os arcônidas tinham feito. O orbton Zeronat se colocou ostensivamente diante dos poços de ventilação, em que as rochas mortais foram escondidas.

— Ei, eu só queria saber o que vocês realmente estão fazendo ali.

— Será que não devemos eliminar o civil, mascant? — perguntou o oficial, para dar uma resposta ao epsalense. Styrm estremeceu e sacou tremendo o radiador térmico.

— Não, nós precisamos dele — respondeu Mindros e colocou o braço na mão do colono adaptado ao ambiente. Este guardou a arma e suspirou aliviado.

O almirante tirou algumas notas de dinheiro de seu traje. Ele as pressionou nas mãos de Styrm. Este engoliu várias vezes, como se ele nunca tivesse tido tanto na mão.

— Com certeza 100.000 galax devem chegar como adiantamento — constatou Mindros. O epsalense confirmou com um sorriso.

Ele se despediu às pressas e continuou a sua patrulha, naturalmente sem comunicar sobre os arcônidas. Iron Styrm venderia a própria mãe por dinheiro. Ele era um homem que queria gozar a vida intensamente, mas para isso ele precisava do muito apreciado galax. Mindros lhe tinha oferecido por sua ajuda dois milhões e meio de galax. Uma quantia pela qual ele teria feito qualquer coisa. Ele não sabia qual era exatamente o plano dos arcônidas, mas no fundo isso também não lhe interessava, pois Mindros lhe tinha assegurado a recompensa. Styrm calculava ser um sequestro e um pedido de resgate. Ele sairia com a pele ilesa, contanto que ninguém descobrisse que estava mancomunado.

Contudo, o epsalense não imaginava quão desastroso sua decisão seria para ele e para os cerca de 20.000 seres vivos a bordo da LONDON.

 

***

 

— Mascant, temos as armas, SERUNs e as rochas sob cuidado e não demos com criaturas inferiores — informou o oficial Zeronat. Ele esperou pela reação de Mindros. O almirante tinha os braços cruzados atrás das costas e parecia satisfeito com seu pessoal. Eles estavam prontos para qualquer coisa. A obediência cega estava escrita em seus rostos.

— Sair — veio a ordem concisa de Mindros. Os soldados deixaram despercebidos e em silêncio o convés. O orbton Hermon foi durante sua saída ao comandante.

— Mascant, quando exatamente vamos atacar? — ele perguntou.

— Logo que começar o Dia da Liberdade. Quando as festividades atingirem o clímax, atacaremos.

Hermon admirou a genialidade de seu comandante. — Os passageiros estarão ocupados com os fogos de artifício e poderemos tomar o resto da nave — recapitulou ele.

— No entanto, usaremos campos de imobilização e lançadores de ácido STOG17 para os oxtornenses e halutenses. Não quero correr o risco de dar uma chance a estas bestas de frustrar a nossa operação — explicou Mindros com um leve sorriso.

 

Capítulo 14

Heróis de Árcon

20 de junho do ano 1290 NCG

O Dia da Liberdade

 

A viagem também seguia no décimo dia sem complicações. A LONDON II já tinha percorrido dois milhões de anos-luz. Eireen Monhar estava agora bem integrada à tripulação da ponte e calculava um curso de forma mais rápida. A ambiciosa plofosense apresentou seus cálculos a Roy Cheidar, que pleno de reconhecimento permitiu corrigir o curso.

Com isso não se tinha de navegar por um setor determinado onde as emissões energéticas e hipertempestades só permitiam um fator ultraluz baixo, mas considerado até agora o caminho mais rápido para London’s Grave, o que talvez era devido até agora apenas a FREYJA e a própria LONDON terem rumado para o sistema.

Cheidar acreditava que a LONDON agora poderia atingir o sistema alguns dias antes.

Michael Shorne estava muito satisfeito com esta notícia. Ele deu a Monhar uma gratificação extra. O resto da tripulação estava preparando a LONDON para o “Dia da Liberdade”. Naquele 20 de junho Perry Rhodan tinha enviado 143 anos antes a lendária mensagem de rádio: A Via Láctea está livre. Monos está morto. Não há mais Senhores das Estradas. A Via Láctea está livre. Desde o ano 1165 NCG o dia foi declarado oficialmente pelo Galacticum como feriado na Via Láctea. Se a libertação de uma tirania de quase 700 anos não era motivo para um feriado, então o que seria?

Em todo lugar foram colocados ramos de rosas, guirlandas de ouropel pendurados e postadas bétulas. De alguma forma se tinha vindo a usar desde o ano 1190 NCG árvores como ornamento. A ideia não teve origem nos terranos, mas nos blues. Aparentemente eles tinham plagiado o pujante Natal terrano. Eles tinham, no entanto, adotado o costume.

Naturalmente muitos dos representantes dos povos galácticos não podiam fazer muito com o Natal, pois não tinham a referência religiosa. Alguns povos galácticos viram no “Dia da Liberdade” seu Natal. Um dia do amor, da liberdade e da memória da democracia e dos direitos de todos os seres vivos. Havia sido planejado previamente celebrar este grande feriado galáctico.

Circulavam rumores de que Michael Shorne se passaria pelo robô Vario-500 na figura de Perry Rhodan na anual História da Libertação. Roy Cheidar notou que Shorne ficaria melhor como Pedrass Foch.

Na manhã de 17 de junho Roy Cheidar queria inspecionar os preparativos finais da festa que ocorria.

Huck Nagako e Udo Arenz tratavam de arrumar a maior das árvores. Nos galhos pendiam pequenos planetas, um total de 383 peças, o número das nações fundadoras do Galacticum. Tinha dado um trabalhão para ambos prender as bolas. E cada um esperava que a árvore não tombasse por um movimento descuidado. Arenz xingou mais uma vez, porque alguns tripulantes não trabalhavam rápido o bastante como ele queria.

— Posso de alguma forma ajudar? — indagou Cheidar, ligeiramente divertido, quando viu quatro pessoas tentando em vão instalar a árvore. Ele se perguntou por que eles não trouxeram robôs para ajudar.

— Está tudo bem, obrigado capitão — respondeu Arenz.

— Só não sabemos onde colocar a árvore — acrescentou a contragosto. Então pareceu bastar para ele. Ele mandou vir uma unidade antigravitacional e colocou a árvore de pé. Cheidar olhou em volta. Então uma ideia pareceu vir a sua cabeça.

— Eu tenho uma ideia, Udo. Vamos instalar a árvore no salão estelar, ali todos podem vê-la.

— Como?

Arenz parecia um tanto confuso.

— Você não tem senso de beleza? O salão estelar é o centro da LONDON e é o local ideal para dar à árvore da liberdade o prestígio correto.

O engenheiro-chefe revirou os olhos e se pôs a trabalhar para posicionar a árvore com cuidado por um dispositivo antigravitacional no centro do salão estelar.

 

***

 

Michael Shorne pensou em tudo. Ele havia também colocado à disposição dinheiro suficiente para oferecer um show magnífico. A temperatura nos “conveses externos” foi reduzida para 0° C e começou a nevar artificialmente. Shorne era da opinião de que uma atmosfera de inverno pareceria mais romântico aos convidados do que condições tropicais. Roy Cheidar até tinha adquirido algum respeito por Shorne. Uma Festa da Libertação branca em algum lugar do vazio do espaço entre a London’s Grave e a Via Láctea. Havia algo de admirável nisso. A sintrônica de bordo começou a tocar música levemente alegre. Havia diversos hinos do Dia da Libertação de compositores e intérpretes renomados. Nada mais havia no caminho para uma festa feliz, ou havia?

 

Capítulo 15

Em busca da LONDON

18 de junho do ano 1290 NCG

Em algum lugar no espaço

 

— Ainda nenhum sinal da LONDON — informou Gerine frustrado a seu comandante.

— Onde a LONDON pode estar metida? — murmurou o arcônida, apoiando o queixo sobre a mão direita.

“Eu pensei que logo seria o Dia da Libertação e não a Páscoa”, observou espirituoso seu sentido extra.

Atlan decidiu não responder a esta declaração. Em vez disso ficou refletindo sobre o paradeiro da LONDON II.

O imortal tinha achado que, com toda probabilidade, Prothon da Mindros tinha sido responsável pelo ataque à base militar arcônida em Ferryd Mir.

Que sentido tinha tudo isso, ainda permanecia escondido para Atlan. Aparentemente, algo importante tinha se encontrado na base. Mindros parecia ter se apoderado desta incógnita da equação.

Mas o que era? Atlan descobriu por acaso que o mascant estava entre os passageiros da nave de luxo. Atlan viu pelo dossiê de Mindros que toda sua família tinha morrido no naufrágio da LONDON. Não havia mais nada do que recear um ato de vingança de Mindros. O almirante tinha desaparecido por vários dias, estava pretensamente com três naves espaciais em uma operação secreta, mas que da qual ninguém sabia nada. Atlan tinha a convicção de que a LONDON II estava em grande perigo. Seu excêntrico sentido extra concordava com ele. Por isso Atlan tinha resolvido interceptar a LONDON com a RICO. Mas ela não estava mais em seu curso original.

A grande espaçonave terrana tinha decolado no dia 6 de junho do ano 1290 NCG da Terra e já deveria estar ao alcance de Andro-Alfa em 17 de junho. A RICO usou o máximo de velocidade a fim de alcançar a LONDON ali. Os cálculos de Atlan resultaram. A RICO tinha realmente conseguido entrar em posição em 16 de junho diante de Andro-Alfa. Mas a LONDON não apareceu. A tripulação da RICO ficou esperando em vão por dois dias a chegada da LONDON, para finalmente despachar — também em vão — todos as microcorvetas18 e space-jets em busca da espaçonave desaparecida.

Havia apenas duas possibilidades: a LONDON estivera antes de 16 de junho em Andro-Alfa e assim já estava muito à frente, ou Prothon da Mindros já havia realizado seu plano, o que quer que este implicasse.

No entanto, Atlan não queria pensar sobre a segunda alternativa. Ele decidiu continuar a voar para London’s Grave.

Não obstante, ele instruiu os navegadores a calcular todos os cursos possíveis e vantajosos para este sistema. Talvez a LONDON II também tivesse tomado um curso diferente. Atlan esperava de coração por isso.

 

Capítulo 16

O Dia da Liberdade

19 de junho do ano 1290 NCG

 

O clima de feriado poderia se sentir cada vez mais nitidamente pela nave. Mesmo os céticos estavam surpresos pela forma como Michael Shorne preparara a Festa de Libertação. As piscinas do convés A estavam congeladas e serviam como pista de patinação. Uma diversidade de seres se movia alegremente pelo gelo. A atmosfera invernal era algo novo para os terranos, embora alguns povos comemorassem o 20 de junho sempre no inverno em seu planeta natal.

Naturalmente Michael Shorne não empreendia todo este esforço por puro amor ao próximo. Ele queria que os seres se recordassem positivamente do voo, e assim eram asseguradas outras viagens da LONDON.

Rosan Nordment pouco se divertiu. Sentia-se mais e mais desconfortável na nave, porque tudo lhe lembrava a velha LONDON. Nos últimos dias, ela mal tinha saído da cabine, evitando contato com os outros. Ela também tinha visto pouco Gol Shanning. Quando se viam, ele tentava se mostrar agradável e fazia muita publicidade da Sol-News. Rosan estava deitada entediada e triste em sua cama, e brincava um pouco com seu gato Loo, quando escutou uma batida forte. Curiosa, ela abriu a porta da cabine, mal uma brecha se abriu, Loo passou correndo pela abertura. O gato não deu ouvidos à repreensão de sua dona. No entanto, voltou correndo instintivamente quando viu o monstro diante de si. O okrill bufou vigorosamente pelo focinho e soprou o gato na parede. Com um rosnar selvagem ele quis correr para Loo, mas seu dono o deteve.

— Solta! — gritou Hajun Jenmuhs. O arcônida gordo parecia ter se divertido imensamente sobre o acontecimento.

— Espero que não falte nada da sua fera.

Rosan tremia de raiva. Ela pegou o gato assustado nos braços. Jenmuhs olhou para ela com expectativa. — Você devia ter cuidado para não o deixar vagar livre, poderia facilmente acontecer alguma coisa com ele — acrescentou o obeso Jenmuhs com um sorriso.

— Sabiamente diga a ele, ele lambe meu...!19 — Rosan não conseguiu continuar com a citação terrana, porque Wyll Nordment apareceu por trás do okrill e cumprimentou Rosan. Com dificuldade, ele se espremeu para passar pelo monstrengo. Um oficial de convés advertiu o aristocrata arcônida, que ele não poderia andar pelos corredores com um animal de estimação deste tamanho.

— Bekkar — murmurou Jenmuhs com desdém, e levou seu “animal de estimação” de volta para a jaula.

Wyll e Rosan olharam por algum tempo para o pequeno arcônida. Ela acariciava a cabeça de seu gato.

— Posso falar com você, Rosan?

— Sobre o quê?

— Sobre nós. Nós não devíamos nos tratar desta forma — disse Wyll calmo. Internamente Rosan sentiu que Wyll estava certo, mas era difícil para ela admitir isso. Eles foram ao convés, estava bastante frio e ela estava tremendo. Wyll colocou seu casaco sobre os ombros dela. Surpresa, ela olhou para ele. Ela não estava habituada com tanta cortesia de Gol Shanning. — Como você lida com as lembranças? — ela finalmente perguntou, olhando para ele. De seus olhos emanavam tristeza e angústia. Wyll respirou fundo.

— Eu lido com isso relativamente bem. Na época a LONDON nos juntou, sobrevivemos ao desastre. Estas são lembranças inesquecíveis — disse ele.

— Tenho pesadelos e sempre penso nas horas terríveis — contou a meia arcônida, aflita. — Eu não consigo lidar com isso, me sinto como na época quando vim para bordo da LONDON. Aprisionada e desesperada.

— Mas desta vez você criou correntes para si mesma — disse Wyll, repreensivo. Ela sabia que ele também estava certo desta vez.

— Não me parece ter sido determinado nenhum destino diferente — disse ela melancolicamente. Wyll balançou a cabeça. Ele colocou as duas mãos nos ombros dela.

— Naturalmente algo diferente está determinado para você. Você poderia já se livrar, você também pode fazer isso uma segunda vez.

— Sozinha eu não consigo.

— Então vou ajudá-la de novo — disse Wyll com um sorriso. Por um breve momento, parecia que Wyll viu novamente o fogo nos olhos de Rosan, que ele tanto amava. Ele se sentia apaixonado por ela, seus lábios se aproximaram do dela.

— Nada vai ajudá-los! — os dois ouviram alguém gritar irritado. Era Gol Shanning. Com passos largos, ele correu para os dois e agarrou o braço de Wyll.

— Fique com suas mãos sujas longe dela! — Ele rosnou para o terrano. Wyll ficou também agressivo.

— Ah, é? E se eu não fizer isso? — Ele não deveria ter feito esta pergunta, porque Gol Shanning respondeu com o punho direto no rosto de Wyll. O camelotiano terrano caiu no chão. Apavorada, Rosan deu um grito. Wyll pulou e agarrou Shanning. Os dois brigaram no convés A. A atenção dos outros passageiros foi imediatamente atraída para a briga. Rosan tentou em vão separar os brigões. Attakus Orbanashol e Hajun Jenmuhs observaram se divertindo a pancadaria. — Nordment tem um soco forte, que eu posso dizer por experiência — comentou Attakus, que já tinha tido o prazer duvidoso, na primeira viagem da LONDON, de sentir o gancho direito de Wyll durante um jantar.

Michael Shorne e Thomas Zchmitt observavam através do sistema de monitoramento de bordo a briga.

Shorne amassava novamente sua bola e se sentava calmamente em sua poltrona. Zchmitt andava nervosamente de um lado para outro diante da janela.

— Não deveríamos intervir? — ele perguntou a seu chefe. Este balançou a cabeça lentamente. Ele apertou alguns botões e informou os jornalistas sobre o incidente. Em poucos segundos o ferrônio Flocky Tar Faw tinha chegado à cena. Os dois rivais ainda brigavam. Tar Faw, um dos mais famosos jornalistas da Galáxia, tirou seu sistema de câmera trivídeo de uma mala e o ativou. Pequenas câmeras voadoras filmaram a briga. Wyll e Shanning estavam agora no chão, o jovem terrano socou o rosto de Shanning três vezes, antes de ele finalmente parar. O “vencedor” estava estabelecido, mas o verdadeiro vencedor estava sentado na cabine A-1. Até agora Shorne tinha cumprido o que prometera – uma viagem emocionante e variada. A rixa entre Shanning e Nordment parecia ser um bem-vindo entretenimento para os passageiros. Agora Thomas Zchmitt saiu correndo da cabine e alertou o chefe de segurança Louis Clochard, que imediatamente levou os dois sob custódia.

— Provavelmente vocês vão poder celebrar o Dia da Libertação juntos na cadeia — comentou o francês de baixa estatura.

Rosan estava visivelmente constrangida. As pessoas olhavam para ela e faziam gracejos ou mostravam desprezo abertamente a ela. Antes que ela começasse a chorar, ela correu para sua cabine. Thomas Zchmitt pediu desculpas aos passageiros pelo incidente. Ele pediu para Flocky Tar Faw ir a cabine de Michael Shorne.

Naturalmente o ferrônio aceitou o convite, na esperança de obter uma entrevista com o proprietário da LONDON II.

— Sente-se, Flocky — disse Shorne razoavelmente educado.

— Posso lhe fazer algumas perguntas? — começou o ferrônio imediatamente o seu trabalho.

— Por favor...

— Eu gostaria de ouvir um pronunciamento sobre o incidente há alguns minutos.

Shorne sorriu com ar superior.

— Naturalmente eu condeno este ato bárbaro. Gol Shanning e Wyll Nordment mostraram quão pouco nível eles possuem. Presumivelmente os dois ficarão retidos até amanhã cedo e terão de pagar uma multa. Esperemos que este incidente não se repita. Eu quero pedir desculpas em nome das Indústrias Shorne por isso.

Flocky registrou as palavras de Shorne usando um memocubo. Antes que ele emboçasse a próxima pergunta, Shorne continuou.

— Sua tarefa seria a de entregar uma grande reportagem sobre o incidente, que será exibida na televisão de bordo. Melhor ainda esta noite. Isso estaria dentro das possibilidades? — Flocky não esperou muito tempo para dar uma resposta.

— Claro que é possível, sr. Shorne. Vou começar a trabalhar imediatamente. Obrigado!

O jornalista solícito deixou a cabine e foi imediatamente compilar a reportagem a partir do material do trivídeo. Shorne tinha novamente ganhado pontos contra seu concorrente Gol Shanning. Todos os empresários e homens de negócio a bordo da LONDON deviam saber deste incidente e assim afundar ainda mais a reputação de Shanning.

— Eu acho que você acabou de cavar o túmulo de Gol Shanning — observou Thomas Zchmitt, se divertindo muito.

Shorne balançou a cabeça. — Não, meu amigo. Eu construí o caixão.

 

FIM

 

A LONDON II se encontra a caminho de London’s Grave, mas em um dia o mascant arcônida Prothon da Mindros colocará em ação seu plano diabólico. A vida de 20.000 seres está em jogo. Nils Hirseland escreve mais no volume 10: DUELO DE ARCÔNIDAS.

 

COMENTÁRIO

 

Assim aqui temos o primeiro volume da continuação do ciclo LONDON “A Vingança do Mascant” que apareceu na versão original em 1998 em uma história interativa da PROC em cinco partes. Por isso alguns antigos leitores conheceram a história. De um modo geral esta história complexa consistirá de três volumes, cujo conteúdo aparecerá revisado nas semanas seguintes, substancialmente estendida e com novo editor.

Também nesses volumes estarão introduzidos na história personagens importantes, que já são conhecidos dos “antigos leitores” do universo de Dorgon. Mas, e acho importante observar isto, aparecerá também novos personagens que, vamos nos surpreender, poderão desempenhar um papel mais tarde.

No centro da história estão o mascant arcônida Prothon da Mindros e o ex-Lorde-Almirante da USO e último imperador do Grande Império Mascaren Gonozal da Árcon, mais conhecido com o nome de Atlan.

Quem já leu a história “antiga” verá que colocamos muito mais ênfase na elaboração coerente do ambiente social, não mais estando no centro da trilogia atual a história de amor “de cortar o coração” entre a “Cinderela” Rosan Orbanashol e o “cavaleiro destemido” Wyll Nordment, que é basicamente acessório (eu sei que é diferente para Nils), mas (no meu entender) é a transformação do altamente condecorado almirante arcônida Prothon da Mindros de soldado honrado a serviço de sua “pátria” a um assassino impiedoso e frio, que literalmente não irá parar por nada20, para proteger o local de descanso final da sua família.

 

Jürgen Freier

 

GLOSSÁRIO

 

LONDON II

 

A LONDON II por John Buurman

A LONDON II foi construída em um tempo muito curto pela Corporação das Indústrias Shorne (CIS), nos anos de 1289 e 1290 NCG. Ela é igual, excetuando alguns detalhes e com medidas de segurança muito melhoradas, a LONDON I.

As alterações afetam principalmente a estabilidade do projeto de casco, que foi substancialmente melhorado através de um esqueleto de inconite e suportes maciços de metal-plástico.

O conceito do fornecimento de energia foi, depois da experiência com o projeto original, altamente descentralizado e realizado com múltiplas redundâncias. A sintrônica de bordo foi protegida por várias camadas de firewalls descentralizados e acoplada com uma contrassintrônica.

Além disso, foi significativamente reforçada tanto com armamentos ofensivos quanto defensivos.

 

Dados técnicos:

Comprimento: 1.604 metros

Largura: 612 metros

Altura: 903 metros

Propulsor: propulsor metagrav

Aceleração: 971 quilômetros por segundos ao quadrado

Fator ultraluz: 79 milhões

Tripulação: 1.200

Passageiros: 15.022

Armamento ofensivo e defensivo: 3 plataformas de canhões conversores duplos pesados, 4 postos de combate com multicanhões, campo defensivo escalonado sete vezes de campos paratron e SAE.

 

Tripulação da LONDON

Total: 2.350

Roi Cheidar – comandante

Eireen Monhar – primeira-oficial

Huck Nagako – segundo-oficial

Louis Clochard – chefe de segurança

Udo Arenz – chefe de máquinas

Badi Doranee – médico de bordo

Suzahn Roemee – gerente de cruzeiro

Fred Gopher – comissário

Iron Styrm – oficial de segurança

Tino Neumann – oficial-chefe de rádio

Michael Shorne – proprietário

Thomas Zchmitt – gerente executivo

 

Lista de passageiros

Total de passageiros pagantes 17.512

Prothon da Mindros

Rosan Orbanashol-Nordment

Attakus Orbanashol

Hajun Jenmuhs

Karl-Adolf Braunauer – um velho mandão

Ottilie Braunauer – esposa de K. A. Braunauer

Remus Scorbit – Um jovem terrano

Uthe Scorbit – esposa de Remus

Sven Fochtmann – empresário rico

Traros Polat – halutense

Franc Kowsky – Um escritor

Trg’arg Gyl – tópsida

Thalia da Zoltral – uma jovem aristocrata arcônida

Flocky Tar Faw – repórter famoso

Hanny ter Padua

 

 

Prothon da Mindros

 

O mascant Prothon da Mindros por Stefan Lechner

 

Dados pessoais

Data de nascimento: 19 de abril do ano 1212 NCG

Idade: 81 anos

Altura: 1,92 m

Peso: 82,5 kg

Cor dos olhos: vermelho

Cor do cabelo: branco

Local de nascimento: Árcon II

Nacionalidade: arcônida

Pais: Philsus da Mindros e Minor da Mindros

Estado civil: viúvo

Esposa: Theranie (Terza) da Mindros (+ 12/dez/1285 NCG)

Filhos: Carba e Suri da Mindros (+ 12 de dezembro do ano 1285 NCG)

Posto: mascant e comandante da 6ª Frota de Cristal

 

Condecorações

– Suril Famag (o melhor da classe) em 1231 NCG

– Dhakat (medalha por realizações especiais) em 1245 NCG

– Estrela Vermelha (condecoração para alcançar um comando) em 1246 NCG

– Medalha de Zoltral Primeira Grau (condecoração por uma operação) em 1251 NCG

– Medalha de Zoltral Segundo Grau (condecoração de comportamento especial em ação) em 1253 NCG

– Medalha de Zoltral Terceiro Grau (condecoração por comandar várias unidades) em 1255 NCG

– Estrela de Árcon (medalha pela nomeação de almirante e comandante de frotas) em 1268 NCG

– Estandarte do Imperador (condecoração rara para os melhores almirantes da frota) em 1275 NCG

 

Currículo

Prothon da Mindros nasceu em 1212 NCG em Árcon II, filho do rico e influente do Khasurn da Mindros. Ele frequentou as melhores escolas e se graduou no ano de 1227 na Academia de Oficiais da Frota Bark-N’or em Iprasa. Ali também encontrou Gaumarol da Bostich, que estava estudando na mesma época na Academia Galactonáutica. Com 19 anos ele tinha completado sua formação e recebeu a honrosa distinção “Suril Famag” – O Melhor de sua Classe.

Nos três primeiros anos, ele foi destacado para várias funções administrativas subalternas do Comando da Frota, antes de assumir seu primeiro comando como oficial de navegação no couraçado MINTEROL em 1234 NCG. Ali ele ganhou rapidamente respeito e estima entre seus companheiros.

Após a luta no sistema Daakurr em 1245 NCG, onde se lutou contra colonos rebeldes, ele foi promovido a primeiro-oficial da MINTEROL, e assumiu o comando depois do fracasso do comandante e dos principais oficiais e conseguiu retardar o inimigo até reforços conseguirem intervir na luta.

Por este desempenho ele foi condecorado com a Medalha de Dhakat neste mesmo ano.

Depois que ele foi designado para um curso de liderança de seis meses e em seguida recebeu, depois de uma excelente conclusão, o comando da LOLANDES, um couraçado tênder da classe TERMON.

A LOLANDES era especificamente utilizada em áreas de crise e fronteiras do Império de Cristal. Nos anos seguintes Mindros resolveu situações de conflito, como levantes de colonos, rejeição dos imigrantes ilegais e controles afins.

Distinguia-se principalmente por seu tipo calmo e frio, e nunca perdia a tranquilidade. Sua autoridade como comandante era incontestável. Ele também era conhecido por sua crueldade durante as lutas, pois para ele só contava a vitória. Qualquer meio era válido para ele, mas ele também era honrado e justo com os inimigos derrotados, desde que estes capitulassem no momento correto. A partir do ano 1250 NCG ele foi transferido para as operações do Serviço Secreto. Ali ele foi responsável por missões de reconhecimento e espionagem na LTL e no Fórum Raglund. Houve grande satisfação pela realização destas missões. Seu maior sucesso foi o desmantelamento de uma missão de espionagem da LTL, onde destruiu impiedosamente cinco naves especiais a serviço da Liga que deviam construir uma rede de agentes no sistema Árcon. Por este desempenho ele foi condecorado em 1255 NCG com a Medalha Zoltral Terceiro Grau.

Após esse sucesso, ele fora transferido de volta ao comanda da frota como oficial de ligação com o Tu-Ra-Cel no posto de um thek’pama21.

Então em 1258 NCG ele conheceu Terza, de 38 anos de idade em Árcon. Ele se apaixonou imediatamente por ela e se casaram em outubro do ano 1260 NCG. Nos anos seguintes seu principal interesse foi o combate a IPRASA, que ele considerava com uma traição vergonhosa a Árcon e ao Imperador.

No final do ano 1267 NCG, ele iniciou no sistema fronteiriço Don K’abur uma armadilha perfeita em que a IPRASA caiu. Caíram e foram destruídas sem piedade mais de 1.000 unidades da organização rebelde. Em consequência, a liderança da IPRASA recorreu a ações individuais e ações do serviço secreto.

Foi conferido a Mindros por isso no ano 1268 NCG, uma das mais altas medalhas de Árcon: a Estrela de Árcon. Paralelamente à condecoração ele foi nomeado para almirante e comandante da IV Frota de Cristal. Mindros agora pertencia aos almirantes mais poderosos do Império de Cristal. No ano 1275 NCG ele recebeu como reconhecimento por seu trabalho “grandioso” e “heroico” em prol de Árcon o Estandarte do Imperador, que só era muito raramente concedido. Sua mulher deu à luz em 1276 NCG a um filho que foi chamado de Carba. Este foi o orgulho de Prothon. Apenas dois anos depois eles tiveram outra criança, uma filha, que chamaram de Esrana.

Prothon já tinha planejado a vida de seus dois filhos. Esrana devia entrar para a política, enquanto Carba seguiria carreira na frota. Para marcar o 25º aniversário de casamento em outubro do ano 1285 NCG Terza desejou uma viagem de cruzeiro na nova nave espacial de luxo LONDON. Prothon concordou, e queria viajar com ela e os dois filhos, mas no último minuto teve que cancelar porque havia problemas com a IPRASA. Assim Terza, Carba e Esrana viajaram e Mindros ficou sozinho, e morreram em 9 de dezembro do ano 1285 NCG no naufrágio da LONDON.

Isto significou para Prothon o fim de todas as suas esperanças. A partir de então ele já não foi ele mesmo, todos os seus pensamentos e sua energia conheciam apenas um objetivo: vingança pela perda de sua família.

1 Nota do revisor: Tai Ark’Tussan, grafado erroneamente pelo autor como Ark’Thussani, é o nome coloquial em Satron para o termo Grande Império, cunhado para o grande império arcônida que dominou a Galáxia há 20.000 anos.

2 Nota do revisor: Em 1240 NCG o Império de Cristal é extremamente nacionalista e tem ímpetos expansionistas, o que preocupa Atlan a ponto de levá-lo a lutar contra este Império tornando-se o opositor aos rumos da política do Império, principalmente após ao incidente relacionado à morte de Theta de Ariga, Atlan com a ajuda do ex-agente da ÁRIES Yart Fulgen desenvolveu o grupo existente, comando secreto IPRASA, na organização IPRASA, semelhante à antiga USO e principalmente por isso Atlan é “persona non grata” no Império já há várias décadas. No ano de 1292 NCG, a IPRASA se juntou com a recém-criada nova USO.

3 Nota do tradutor: Inglês, It – denota pessoa ou coisa que está extremamente na moda, é popular ou é bem-sucedida em um determinado momento.

4 Nota do revisor: Homens-V (também V-Mamn, abreviado HV é como são chamados a maioria dos agentes secretos “extraoficiais” na Alemanha) indica uma conexão ou pessoa de confiança que age como um informante constante de um serviço secreto ou polícia. Ao contrário de um agente disfarçado os do HV são pessoas que não são uma das autoridades de investigação, mas sim pessoas privadas que normalmente pertencem ao meio em que ela está agindo. Os motivos para agir como um informante podem ser diversos, desde ideologia até ganhos financeiros.

5 Nota do revisor: A grande mãe Goedda foi criada cerca de 60.000 anos atrás na galáxia Suuvar, pela coalizão internacional dos insetoides insedders, como uma arma biológica. Posteriormente ficou muito poderosa e voltou-se contra seus criadores. No século 13 NCG, Shabbaza a despertou de seu sono e a incitou a atacar a galáxia Tolkandir onde Goedda recuperou todo seu poderio, ficando assim, pronta para atacar a Via Láctea; o objetivo real de Shabbaza.

6 Nota do revisor: Shabazza sabotou o Baluarte Heliotiano, o que provocou o desaparecimento de milhares de terranos e o surgimento na Terra de uma cidade dos dscherros, seres agressivos que atacaram Terrânia, os dscherros provocaram uma grande destruição em Terrânia, o que foi chamado de “crise dscherro”.

7 Nota do revisor: Mirkandol é um mundo arcônida. Sua história remonta a época do primeiro imperador arcônida, Gwalon I até o imperador Gonozal VIII, Atlan. A história se passa nos volumes azuis 14 a 16 na trilogia de Rainer Castor “Imperador de Árcon”. Posteriormente em 1290 NCG os arcônidas instalaram em Mirkandol a nova sede do Galacticum.

8 Nota do tradutor: Plural majestático - https://pt.wikipedia.org/wiki/Plural_majestático

9 Nota do revisor: No Satron, o nobre de terceira classe (barões, cavaleiros) têm o título nobre de Zhdopan.

10 Nota do revisor: A Paragetha é uma escola de cadetes em Árcon I. É a escola de elite para os ricos da aristocracia do Império de Cristal.

11 Nota do revisor: O título do Imperador em Satron – literalmente nobre máximo – que os governantes monárquicos do Grande Império carregam, no Império de Cristal e no Império Divino dos Arcônidas.

12 Nota do revisor: cel’mascant é o título para o chefe do serviço secreto Tu-Ra-Cel do Império Arcônida, com a patente de almirante.

13 Nota do tradutor: Exame usado para determinada a tendência de coagulação do sangue. O tempo de protrombina alto indica que existe algum problema que está dificultando a coagulação do sangue.

14 Nota do revisor: Comandante Perkins é uma série de ficção científica de H. G. Francis, autor de Perry Rhodan, que apareceu em parte como um drama de rádio e em parte como uma nova série de livros.

15 Nota do revisor: Attaca Meganon foi um hiperfísico terrano recrutado no ano de 1251 NCG por Camelot. Ele rapidamente tornou-se o Diretor Científico do módulo ENZA da GILGAMESH. Durante este tempo, ele desenvolveu abordagens teóricas de Geoffry Abel Waringer criando o fator Meganon que liga a escala Kalup com a hiper-radiação de frequências ultraelevadas e a escala Meganon que determina e mede a força das hipertempestades. Ele e suas descobertas foram cruciais para o estudo e combate do aumento da hiperimpedância.

16 Nota do revisor: Arbtan: soldado espaço simples, sargento.

17 Nota do revisor: O ácido STOG era no século 25 o mais forte ácido orgânico conhecido pelos terranos. É obtido no comparativamente desconhecido planeta Fargone na Via Láctea, no qual havia algumas espécies animais que usavam o mesmo para defender-se dos seus inimigos.

18 Nota do revisor: As microcorvetas ou minor-globes são pequenas corvetas esféricas, para até 8 tripulantes, de 30 m usadas desde o ano 1143 NCG, quando pertenciam a classe KASKAYA e ANGARA. As microcorvetas atuais, após a hiperimpedância, pertencem as classes JANUS, SCARAB e MICROTOME, estas últimas especialmente fabricadas para combater as microferas.

19 Nota do tradutor: Variação da frase “Er aber, sags ihm, er kann mich im Arsch lecken.”, da peça de Goethe Götz Von Berlichtungen (O Cavaleiro da Mão de Ferro, em português): “Mas ele diz a ele, ele pode me lamber no c...”

20 Nota do tradutor: über Leichen gehen (ir sobre cadáveres) — expressão idiomática que significa “não parar diante de nada” e também ao nosso “vender a própria mãe”.

21 Nota do revisor: O thek’pama e o oficial responsável pelo trabalho burocrático, e está sob o comando do Ark’Thektran que é o comandante da Central de Comando Ark’Thektran, do mundo da Guerra Árcon III.